segunda-feira, 9 de julho de 2007

Cascaliana #1 - Maria Archer


Nessa tarde, ao regressar do Estoril, Marietta sentia-se transfigurada. E leve de corpo, de ânimo, de ideias! Uma voz clamava no seu íntimo: Vida nova! Vida nova! Como que todo o universo comungava na sua alegria. O rodar do comboio, áspero e monocórdico, chegava-lhe aos ouvidos que nem som de fanfarra vitoriosa. No rio, as ondulações da terra, nos longes do céu, a luz desmaiava numa apoteose de cor. «É para mim, murmurava ela, toda esta cor é só para mim, só eu a vejo, é uma festa a que não vou...»


Ida e Volta duma Caixa de Cigarros, Lisboa, Editorial O Século, 1938, p. 9.

Maria Archer



Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira (Lisboa, 4-I-1905-24-I-1982).


Maria Archer é uma das principais mulheres escritoras portuguesas, talvez a grande ficcionista da primeira metade do século. Senhora duma prosa segura e elegante, a que se acrescenta uma mundividência invulgar aliada a uma origem familiar da alta burguesia, que lhe proporcionou ilustração e cosmopolitismo, os seus livros reflectem a condição de mulher emancipada e feminista com um arrojo inusitado e arriscado para o seu tempo -- o que lhe valeria perseguições e apreensões das suas obras. Maria Archer, exilada no Brasil na década de 1950, será uma das vozes da Oposição ao salazarismo. Regressa depois do 25 de Abril, pobre e desiludida, resguardando-se num asilo até à sua morte.

Se nós, portugueses, tivéssemos mais brio no nosso património, a obra de Maria Archer não estaria, com duas excepções, confinada aos alfarrabistas. Obra que se estende pelo romance, contos, novelas, teatro, literatura juvenil e policial, ensaística, divulgação etnográfica, panfleto político, poesia... É autora, de parceria com Branca de Conta Colaço, das Memórias da Linha de Cascais (1943).

O prefácio de Gilberto Freyre a Herança Lusíada (s.d.)
Nota biográfica: Instituto Camões, de Dina Botelho
Na blogosfera: Olho da Letra


terça-feira, 3 de julho de 2007

Estoril Jazz 2007

Este está quase a começar.
Vamos ficar uns dias com o cartaz.
Mais informações aqui

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Um caso de família

Uma boa parte da minha família materna é de Cascais. Tive uma trisavó que viveu no Alto do Moinho Velho. Toda a vida aqui morei, entre Cascais e o seu termo -- onde está a antiga aldeia saloia do Cobre, a que há pouco regressei passado um quarto de século -- e o Estoril, «um mundo fora do mundo», como lhe chamou Jaime Cortesão uma década antes do meu nascimento, e que, cosmopolita e arejado, nesse ano de 1964 pouco tinha que ver com o resto do país. O Cemitério da Guia vai sendo, por sua vez, uma morada de família que surpreendentemente encaro de forma apaziguadora.
Este blogue é pessoalíssimo e não tem agenda. Nem interesse ou veleidades de intervenção cívica, o que não significa que não possa vir a tomar posição em favor de algo que lhe diga respeito e necessite ser defendido ou apoiado. Cá virei sem datas marcadas; somente quando me apetecer, ou tropeçar em algo que goste de partilhar. O que me importa é continuar aqui o que noutros locais fiz: encontrar-me no Cascais e no Estoril que me pertencem: o da escrita, do património, do jazz, do rock, da história, dos pescadores, dos reis, dos saloios, do mar, da minha memória e da dos meus neles.

Começa agora

D. Carlos I, Praia de Cascais (1906)
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa

 
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