domingo, 23 de setembro de 2007

Praia da Conceição

Uma das praias da minha infância, neste princípio de Outono melhor que nunca. As pessoas não se amontoam, estrangeiros compõem a paisagem, crianças brincam na areia, os meus filhos chamam-me a ver um cardume (!), com placidez, velas singram nas águas. Virado para a praia, no mar, à minha direita está, impante, a magnífica Casa Palmela; à minha frente, o seu sucedâneo, a Casa Faial (antigo Tribunal), continuo, dentro de água, a olhar para a esquerda: a velha Casa Mantero, agora um conjunto de apartamentos de luxo, a Casa Loulé (Hotel Albatroz), depois a Casa Seixas (Messe de Marinha), a esplêndida fieira de habitações da Avenida D. Carlos, até à Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, com a Cidadela dentro, volto-me sobre mim, completamente, na marina largam os barcos, outros estão fundeados ao largo.
O meu paraíso ainda existe.

sábado, 15 de setembro de 2007

3 poemas de Celestino Costa

Tanto livros tenho lido,

Eu não sei o que este tem,

Leio-o sempre comovido

Faz-me mal e sabe bem.

Tires, Out. 1989



***


Dentro dum velho, a brincar,

Anda a criança de outrora,

No prazer de recordar

Vai entretendo o agora.

Tires, Julho 1989



***



A VIDA


Eu gosto tanto da vida,

E logo me calhou em sorte

Passar parte dessa vida

No território da morte.

Tires, Março 1990


A Minha Terra e Eu, Cascais, Associação Cultural de Cascais, 1992



Um poeta popular




Celestino Costa, nascido na Abóbada em 1933, poeta popular, canteiro de profissão. É o último representante duma linhagem de artistas da pedra, iniciada pelo seu trisavô, Felismino Luís, também natural da mesma localidade. Trabalha, como profissional liberal, no Cemitério da Guia e noutros do concelho. Há décadas que executa trabalhos também para a minha família. Além deste A Minha Terra e Eu, sei que publicou mais uma colectânea poética, que desconheço, mas espero poder aqui referir proximamente.

Marcas de canteiro

Marcas de canteiro da família Costa
a de Celestino, em baixo (B) e a de seu pai, Eduardo e irmão mais velho, José, em cima (A)
in Guilherme Cardoso, «Os Costas -- uma família de canteiros», Jornal da Costa do Sol, Cascais, 13 de Março de 1997, p. 8.




quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Vinho de Carcavelos nas «Viagens Minha Terra»

Nas Viagens na Minha Terra (1845/46), Garret discorre sobre o gosto britânico pelos nossos vinhos, referindo-se brevemente ao Carcavelos, entre outros, designando-o primeiro por «Lisboa» -- tal como os ingleses faziam: Lisbon Wine. Queixava-se o nosso autor da preferência que os velhos aliados estavam a dar à «jacobina zurrapa de Borgonha»:
«[..] Quem tal diria da conservativa Albion! Como pode uma leal goela britânica, rascada pelos ácidos anárquicos daquelas vinagretas francesas, entoar devidamente o God save the King em um toast nacional! Como, sem Porto ou Madeira, sem Lisboa, sem Cartaxo, ousa um súbdito britânico erguer a voz, naquela harmoniosa desafinação insular que lhe é própria e que faz parte do seu respeitável carácter nacional [..]
O que é um inglês sem Porto ou Madeira... sem Carcavelos ou Cartaxo?»

Viagens na Minha Terra, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1976, pp. 37-38.

Sobre Garrett:
na blogosfera, O Divino Almeida Garrett, de Cristina Futscher Pereira, infelizmente já falecida;
e também na Wikipedia.

Sobre o Carcavelos:
na blogosfera, João à Mesa.
 
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