sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sob o signo do «Dragão da Crítica» - Romancistas, Poetas, Ensaístas e Historiadores em Cascais (2)



Uma localidade distingue-se pela morfologia própria, como pelo conjunto patrimonial que se foi acrescentando ao longo dos tempos. Os grandes escritores, porém, dão-lhe carácter.
Não é difícil encontrar referências a Cascais; elas são múltiplas. Exemplos:
Eça de Queirós (1845-1900), em carta a sua mulher, datada de Cascais, em 11 de Maio de 1898, refere-se à característica nortada primaveril que costuma abater-se sobre a vila, rematando da forma que se segue (e que inspirou este blogue...):
«Cascais é a caverna do velho Éolo, rei dos Aquilões.» (6)

Raul Brandão (1867-1930), registando nas suas memórias a agonia da Monarquia e o clima de fim de festa que por cá se vivia:
«A Parada era a capital do reino de Cascais.» (7)

João de Barros (1880-1960), acompanhando o romancista inglês Somerset Maugham num passeio pela nossa orla marítima:
«Praia do Guincho -- últimas areias da Europa».(8)

Jaime Cortesão (1884-1960), banido pelo regime salazarista em 1940, exilado no Brasil, professor de diplomatas no Itamarati (Instituto Rio Branco), nomeado pelo governo brasileiro comissário da exposição do IV Centenário da Fundação de São Paulo, regressado a Portugal, temporariamente, com passaporte diplomático para pesquisar nos arquivos portugueses documentação que servisse esse importante evento, encontra-se exilado no seu país, numa terra de monarcas exilados, o Estoril, a que chama
«os Paços reais do exílio.» (9)


Notas:

(6) Eça de QUEIRÓS, Correspondência, vol. II, leitura, coordenação, prefácio e notas de Guilherme de Castilho, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983 : 442.
(7) Raul BRANDÃO, Memórias, vol. I [919] Lisboa, Perspectivas & Realidades, s.d. : 214.
(8) João de BARROS, Hoje, Ontem, Amanhã, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1950 : 177.
(9) Jaime CORTESÃO, «Estoril -- estância cosmopolita», Cascais e Seus Lugares, n.º 9, Cascais, Junta de Turismo de Cascais, 1956 : 28.
(continua)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

domingo, 14 de outubro de 2007

catavento

Um catavento de Cascais, da casa que foi de João Gaspar Simões: a "Casa do Dragão".
Porque tem ela este nome, a seu tempo direi.
Foto de Guilherme Cardoso

Sob o Signo do «Dragão da Crítica» - Romancistas, Poetas, Ensaístas e Historiadores em Cascais* (1)

Por razões pouco compreensíveis, o património literário tem sido o parente pobre dos estudos de história local. (1) No caso de Cascais, essa debilidade é particularmente evidente. Os literatos que o concelho ofereceu ao país não se distinguiram pela notoriedade post mortem, apesar do brilho das suas obras e/ou personalidades, amplamente reconhecidas pelos coetâneos. José da Cunha Brochado (Cascais, 1651 -- Lisboa, 1733), por exemplo, notável diplomata e académico, memorialista e epistológrafo, foi lentamente recuperado durante o último século -- recuperação quase milagrosa, dado o estado de dispersão em que se encontra o seu acervo, em grande parte ainda inédito. José Inácio Roquete (Alcabideche, 1800 -- Santarém, 1870) -- aliás, Frei José de Nossa Senhora do Cabo Roquete, depois de professar no convento de Santo António do Estoril -- politicamente reaccionário, miguelista exilado em Londres e Paris, onde auxiliou o Visconde de Santarém no monumental Quadro Elementar (1842-1854). Autor de uma obra vasta, disse quem a compulsou ser ela um exemplo da conjugação de «beleza literária» com a «substância doutrinal». (2) Da teologia e da história à didáctica e à tradução, estará hoje quase toda irremediavelmente datada -- o que não impede que, pelo menos dum ponto de vista local, conheçamos as suas linhas de força, por exemplo através duma antologia. Trata-se de um imperativo. O mesmo se passa, de resto, com o ensaísta, poeta, professor da Faculdade de Letras do Porto e membro da «Renascença Portuguesa» (3) Luís Cardim (Cascais, 1879 -- Porto, 1958), grande mestre dos estudos shakespeareanos em Portugal, remetido para um limbo de que urge resgatá-lo. (4)

Ferreira de Andrade (Lisboa, 1910 -- Cascais, 1970), olisipógrafo emérito (5) e não menos conspícuo cascaleógrafo (!), constituiu-se como notável excepção, referenciando no Cascais -- Vila da Corte (1964) mais de 30 autores, de Ibn Mucana a Carlos Malheiro Dias, não se limitando, em alguns casos, a compilar referências, mas também a dar conta de investigação própria e publicação de fontes.

Esta comunicação algo errática pretende levantar pistas e incentivar a descoberta do patrtimónio imaterial de Cascais, produzido pelos seus naturais ou pelos que cá viveram e dessa vivência deixaram que as respectivas obras dela participasse.

(continua)


*Texto apresentado às Jornadas do Património de Cascais, no Centro Cultural de Cascais (Gandarinha), em Setembro de 2003.


Notas

(1) «São particularmente reduzidas as bibliografias sobre os patrimónios etnográfico e natural e inexistente qualquer orientação sobre o património linguístico e literário.» Jorge de ALARCÃO, Introdução ao Estudo da História e Património Locais, Coimbra, Instituto de Arqueologia / Faculdade de Letras, 1986 : 6.


(2)Pe. Miguel de OLIVEIRA, História Eclesiástica de Portugal, Mem martins, Publicações Europa-América, 1994 : 253.


(3) Alfredo Ribeiro dos SANTOS, A Renascença Portuguesa -- Um Movimento Cultural Portuense, Porto, Fundação Eng.º António de Almeida, 1990.


(4) Ricardo António ALVES, «Seis cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre», Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996 : 95-109.


(5) Fernando CASTELO BRANCO, Breve História da Olisipografia, Lisboa, Instituto de Cultura Portuguesa, 1980 : 65-68.

Frei José Inácio Roquete

(Alcabideche, 1800 - Santarém, 1870)
Fonte: Ferreira de ANDRADE, Cascais -- Vila da Corte

domingo, 7 de outubro de 2007

Guilherme de Faria

Faz hoje 100 anos que nasceu o poeta Guilherme de Faria
(Guimarães, 6-X-1907 -- Boca do Inferno, Cascais, 4-I-1929).
Ler aqui.

Uma evocação de João Vasco

Em Maio de 1966, o TEC (Teatro Experimental de Cascais) levou à cena a peça Mar, de Miguel Torga. Carlos Avilez convidara o autor para a estreia, mas este recusara: «a um ensaio-geral gostaria de assistir» -- recordou João Vasco -- evitando «tudo o que fosse "mundanice"».
Mirita Casimiro como "Maria Papolia"
«Nesse início de tarde, estando eu no [Hotel] Baía com a D. Mirita, vimos passar Torga, que momentaneamente parou para perguntar onde ficava o Teatro Gil Vicente. Uma das pessoas informou aquele senhor que, subindo na direcção daquele beco, lá iria ter, mas que vinha ali a D. Mirita que, certamente, ia para o Teatro.

Torga retratado por Pomar
Ao nosso encontro vem Torga, no seu passo apressado, com um rosto granítico, estendendo o seu enorme braço, que diz para Mirita: "Muito prazer em conhecê-la pessoalmente, minha senhora." Mirita olhou-o com aqueles grandes olhos, e contempla, da sua pequena altura, a figura imponente de Torga. Depois apresentou o rapazito que iria representar a sua peça... Encaminhámo-nos pelos becos, direitos ao Teatro Gil Vicente. Limitei-me a ouvir a conversa de Mirita e Torga. Falaram de Viseu, da dinastia dos Casimiros, de S. Martinho de Anta, do sol radiante que estava nessa tarde, etc. Torga fazia umas paragens, contemplando a parte antiga de Cascais, nessa altura ainda não destruída como hoje. [...]
Almada Negreiros
Ao chegarmos ao largo do Gil Vicente, surge o velho "carocha" Volkswagen acinzentado, com a figura simpática, extrovertida, simpática, sei lá... de Mestre Almada Negreiros [...] Torga deu o braço a Almada e entraram, na maior das boas disposições, no teatro.
João Vasco
Na sala de entrada do teatro havia uma certa desarrumação, pois todo o guarda-roupa, concebido por Almada, tinha ali sido concebido. Em cima de uma mesa estava a maqueta, construída pelo próprio Almada. Torga ficou deslumbrado e examinou com pormenorizada atenção, aquilo que viria, passados cerca de 15 minutos, a ver no palco.
Assisitram juntos a todo o ensaio. [...] Torga, no final, teve palavras muito simpáticas para todo o elenco e para o deslumbrante cenário do Mestre Almada. [..]
Teatro Gil Vicente
No dia seguinte, perguntei a Paula Almada Negreiros (filha do Mestre e de Sarah Affonso) por Torga: "Entrou no nosso carro, mal acomodado, e quis ficar junto da estação do Estoril, pois queria apreciar a paisagem até Lisboa ["]. Almada Negreiros seguiu para a sua casa de Bicesse. [..]»
João VASCO, «A propósito de Almada Negreiros e Miguel Torga em Cascais», Exposição Conjunta de Sarah Affonso e José de Alamada Negreiros em Cascais [catálogo], Cascais, Cãmara Municipal, 1996, pp. 21-22.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Da colecção egípcia do Museu Condes de Castro Guimarães



Seis pequenas peças do Antigo Egipto constituem a colecção do Museu Condes de Castro Guimarães.
Na fotografia, a de mais antiga datação provável (Império Novo), segundo o egiptólogo Luís Manuel de Araújo, que a estudou.* Trata-se de um escaravelho de faiança com 1,4 cm de comprimento, 1 cm de largura e 0,7 cm de altura, contendo em inscrição o nome do faraó Menkheperré (Tutmés III).
* Luís Manuel de Araújo, «A colecção egípcia do Museu Condes de Castro Guimarães», Arquivo de Cascais, n.º 13, Cascais, Câmara Muncipal, 2005, pp. 11-20.
 
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