domingo, 19 de abril de 2009

poesia de cascais #15 - Mário Avelar



a Jorge Vaz de Carvalho

Meditação 9.

Lucas 1.26. Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi
enviado por Deus a uma cidade da Galileia
chamada Nazaré... A caixa de música


Junto ao velho muro divago p'la casa.
Reconstruo passo a passo seus percursos.
Um sopro. Por favor, fala comigo. Please,
just talk to me... A voz de Gabriel levando-me

para longe: Cascais, o remoto verão
quente de 75. Mês d'Agosto,
talvez. O povo está com o M.F.A.
A rajada de G3... para o ar, diz

com gestos o alferes. Distante, nas tábuas,
um velho cai de joelhos: a caixa de
música. Singulares fumos e odores

envolvem o infante. Feixes de luz cruzam
o espaço dominado pela voz de
Gabriel, um irmão, sob o signo do Touro.

Luís Cardim (Cascais, 1879 - Porto, 1958), PROJECÇÃO DE CAMÕES NAS LETRAS INGLESAS (1940)

PALAVRAS PRÉVIAS
O presente trabalho é constituído pela adaptação a Caderno Cultural duma conferência realizada, em Agosto de 1939, no Curso de Férias da Faculdade de Letras de Lisboa, por muito amável e honroso convite da sua ilustre Comissão Directiva.
Luís Cardim, Projecção de Camões nas Letras Inglesas, Lisboa, Editorial Inquérito, 1940.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Bernardino Machado na Cidadela

No blogue dedicado a Bernardino Machado, de Manuel Sá-Marques
Foto de 1917, Bernardino com Norton de Matos e Leote do Rego.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Almada Negreiros, MATERNIDADE (1948)

-- Nos desenhos da Maternidade, o menino transforma-se num pássaro, num mosquito, numa coisa, desfeito em brinquedo nas mãos da mãe. No fim já é só um frangalho.
-- Onde é que foram feitos os desenhos da Maternidade?
-- Os desenhos da Maternidade foram feitos em Bicesse, num dia entre as 10 da manhã e as 8 da noite.
Para mim foi uma coisa maravilhosa!
Desceu a rir a escada do quarto que vem a dar à sala. Vinha muito bem-disposto, com uma resma de papel debaixo do braço: «Olha, diz, para me trazerem o pequeno-almoço e que mo ponham na mesa de pedra.» Era ali, naquela mesa de mó de moinho que ele gostava de tomar o pequeno-almoço no Verão. Tomou o pequeno-almoço, pôs de lado o tabuleiro e começou a desenhar.
Era maravilhoso!
Depois veio o almoço. Voltou-se a tirar os papéis, comemos, acabámos e voltou ao desenho.
Depois veio o lanche e voltou até à noite.
Não assinou, pôs só 48, foi em Agosto.

Maria José Almada Negreiros, Conversas com Sarah Affonso, 2.ª edição, Lisboa, o jornal, 1985, pp. 150-151.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

poesia de cascais #14 - António Graça de Abreu



Outono, na casa das Areias, S. Pedro do Estoril

Depois de uma noite de chuva
tudo claro e limpo.
A buganvília, as árvores pequenas,
cada uma com a sua seiva.
Os pardais, os melros negros,
cada um com o seu trinar.
Os insectos, as moscas,
cada uma com o seu voar.
Por baixo, insondável a grandeza da terra,
por cima, infinita a altura do céu.
Fácil, entrever a aparência das coisas,
difícil, penetrar na essência do todo
 
Golf
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