quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

poesia de cascais #9 - José do Carmo Francisco



L. C.

A tua loucura é assumida por todos nós em colectivo
Quando somos os teus leitores fiéis
À volta da máquina de fotocópias
Ou à volta da mesa na cervejaria

E quando em Cascais como se fosse Fátima
Se encontram os peregrinos de todo o País
E tu meu velho sacerdote passas horas a insultar
Todos aqueles fiéis pouco conhecedores da tua fé

Os teus livros circulam ainda fora do circuito
E não enchem as estantes dos bem instalados
Mas não te preocupa essa literatura
De professores de liceu à procura de antologia

sábado, 27 de dezembro de 2008

Uma tela e uma sinfonia para o «Cascais» de Garrett (1)

Publicado no Jornal da Costa do Sol, n.º 1550, Cascais, 22 de Janeiro de 1998.
Aos 47 anos, Almeida Garrett (1799-1854) viveu uma intensa relação amorosa com Rosa Montúfar Infante, mulher de Joaquim António Velez Barreiros (1803-1865), 1.º barão e 1.º visconde da Luz.
As cartas arrebatadas do poeta à musa, vinte anos mais nova, e o último livro Folhas Caídas (1853), trazem-nos o eco dessa paixão que teve por cenário não só os salões e os arrabaldes lisboetas, mas também estes sítios românticos dum Cascais ainda inóspito, entre o mar e a serra.
(continua)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

linhas de cascais - Miguel Real


Uma noite, na nossa casa da d. João III, reuniu-se o conselho de família, um dos irmãos do Hugo viciara-se no jogo da roleta do Casino Estoril, foi severamente admoestado, não só pelo pai como, sobretudo, pelos restantes irmãos, o Hugo, que acabara de receber a autorização do pai para assinar os cheques das empresas, humilhou o irmão, ordenou que se lhe retirasse o livro de cheques, a conta particular fosse saldada e obrigado a fazer penitência pública na sinagoga, trabalhando para a comunidade de judeus pobres -- vendedores de roupa, caixeiros-viajantes, sapateiros, a maioria asquenaze; [...] alegava ele, não teria mais de dezanove anos, que, cansado de estudar e trabalhar e antevendo a entrada breve para o serviço militar, e consequente partida para a guerra, quisera divertir-se, entretivera-se durante um mês com umas francesas que veraneavam por Cascais e tivera azar, perdera dinheiro, era verdade, mas também podia ter ganho, perdera uma fortuna, mas poderia ter ganho outra -- percebi nessa noite que a pressão da família do Hugo era rigorosa e severa, que todos tinham de orientar-se para o mesmo fim, ganhar dinheiro e não dar nas vistas, o irmão do Hugo perdera dinheiro e dera nas vistas, frequentando um Casino -- este o seu pecado; o pai do Hugo fora sincero, repreendendo o filho por ter humilhado o nome da família por toda a Lisboa e Cascais, frequentando antros nocturnos [...].
O Último Minuto na Vida de S., Matosinhos, Quidnovi, 2007, p. 69.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

linhas de cascais - Ferreira de Castro



-- Como eu ia a dizer, o quartel de artilharia antiaérea prantava-se mesmo à beira do mar. Viam-se passar os navios, que iam para Lisboa. Às vezes era cada um, tão grandalhão, que dentro dele ninguém podia ter medo de afundar-se. Ali perto ficava o Estoril. Tu já ouviste falar no Estoril? Aquilo é que é uma terra bonita! É como um jardim a perder de vista. Só te digo que lá até os pinheiros parecem árvores mansas! Nalguns, as roseiras trepam por eles arriba até chegar mesmo aos galhos. E todas as estradas são mais limpinhas do que o chão de uma igreja! Nas horas de dispensa, eu nunca me fartava de ver aquilo. Há lá automóveis por toda a parte e pessoas que falam o raio de umas línguas que a gente não percebe nada...
A Lã e a Neve, 15.ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1990, p. 18.
 
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