sábado, 5 de dezembro de 2009

Um presente de Natal antecipado

Ao fim de oito dias, e depois de três noites ao relento, o Charlie reapareceu, graças a uma família que gosta de animais.
No sábado passado saímos todos em família para ver o «Up», que a minha filha mais nova andava a pedir há tempos. Deixei, inadvertidamente, o portão mal fechado. Quando chegámos, nem sinal do Charlie. Não sabíamos se desaparecera há muitas ou poucas horas. A primeira reacção foi metermo-nos no carro, eu com dois dos meus filhos, e gritarmos por ele nas povoações vizinhas ao Cobre: Birre, Pampilheira, Torre, Bairro Santana, Encosta da Carreira, Bairro da Assunção, Bairro da Caixa, Bairro J. Pimenta... Nada. Devemos ter andado perto, pois dois dias mais tarde soube que ele terá sido avistado no Bairro Santana, a correr pelo meio da estrada.
Graças à rápida assistência da Fundação São Francisco de Assis, que me encaminhou para o magnífico site Encontra-me, pude elaborar, sem a mínima dificuldade, os cartazes de ocasião. Sempre vi muitos espalhados por aí, e nunca acreditei grande coisa na sua eficácia. Enganava-me redondamente. Ainda só espalháramos meia dúzia, um dos quais posto por uma pessoa amiga no mini-mercado da Charneca, quando, hoje de manhã, tínhamos uma mensagem de alguém que recolhera o Charlie.
Sei agora que ele andou por aqui, num raio de dois-três quilómetros, indo parar a um local entre o Guincho, a Areia e a Charneca. Quando foi avistado por uma senhora desta última aldeia, estava esgotado e sem forças; passara três noites à chuva e ao frio. Uma família, com mais cães, recolheu-o; dias depois viu o anúncio e o Charlie cá está.
Agradeço a todos quantos se preocuparam, e, aqui na "Caverna", especialmente a A. João Soares, A. M. Sousa, Ana, Ana Abrantes, Ana V., Anamar, Austeriana, Brígida Rocha Brito, Carminho, José Manuel Fonseca, Manuel Matos Nunes, Maria, Maria de São Pedro, Nelson Reprezas, Nuno Lebreiro , O Ovo Estrelado, Papoila, Paulo Ferrero, Sofia
Um forte abraço.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Alguém viu o Charlie?

O Charlie tem 4 anos. Desapareceu no Sábado, 28 de Novembro, no Cobre, Cascais. Tem pêlo castanho tigrado com uma pequena mancha branca no peito. É magro (tem leishmaniose) e tem as orelhas pendentes. É dócil. Se o vir ou souber de alguma informação sobre o seu paradeiro, por favor avise-me, aqui no blogue ou para o mail: tmaria_alves@hotmail.com. Obrigado.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A. H. de Oliveira Marques (Cai-Água / S. Pedro do Estoril, 1933 - Lisboa, 2007) -- GUIA DO ESTUDANTE DE HISTÓRIA MEDIEVAL PORTUGUESA (1964)


PREFÁCIO
Este Guia vai directamente inspirado no livrinho precioso de Louis Halphen, Initiation aux Etudes d'Histoire du Moyen Age, que lhe serviu de modelo. Há muito tempo que se reconhecia a necessidade de uma obra de iniciação aos estudos de história medieval, como aliás de toda a história portuguesa. Carecia o nosso estudante -- e a palavra vai empregada aqui na sua mais lata acepção -- de um manual pequeno e acessível, que lhe desse notícia das principais fonte e estudos publicados, o pusesse em face dos problemas fundamentais a tentar resolver e o iniciasse nas fainas árduas e aparentemente herméticas da investigação.
A. H. de Oliveira Marques, Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa, 3.ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1988, p. 21.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

David Byrne, a propósito do Estoril Film Festival

«Estoril, Portugal -- The Future, the Past, the Present and...» -- anotações no seu Journal.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Fernando Lopes-Graça (Tomar, 1906 - Parede, 1994), INTRODUÇÃO À MÚSICA MODERNA (1942)

ADVERTÊNCIA PRELIMINAR

De maneira nenhuma este ensaio pode ser, nem pretende ser, um estudo exaustivo dos problemas que levantou, e levanta ainda, a música destas quatro primeiras décadas de século XX. Não pode sê-lo porque a índole desta biblioteca o não permite; e ainda que o permitisse, quem não poderia pretender levara tarefa a cabo é o seu autor, porque ela estava fora das suas preocupações dominantes. E aqui teme ele mais uma vez de fazer a declaração de não ser musicólogo -- palavra que o assusta, pelas reponsabilidades que o impõe a quem se adorna com ela. Os problemas musicais interessam-no na medida em que, satisfazendo uma das curiosidades do seu espírito, o ajudam a compreender e a resolver os seus próprios problemas de músico sobretudo prático que é. Se escreve, se especula ou teoriza acerca da música (e, contra a sua íntima vontade, bastantes vezes o tem que fazer), é isso devido, antes de mais nada, a razões puramente circunstanciais: umas, não têm aqui que ser invocadas; outras são as que advêm da falta de coragem que muitas vezes há em opor um não a solicitações que são feitas, já em nome da amizade, já em nome dos princípios morais e culturais que defendemos; outras, ainda, -- e estas são as razões que mais desejaríamos não constituíssem uma razão -- residem no impulso irreprimível que frequentemente nos assalta de saírmos com a pena a defender a música das mentiras, tranquibérnias e despautérios com que constantemente a aviltam os próprios que se dizem seus servidores, seus sacerdotes, seus entendedores feros e esclarecidos.

Fernando Lopes-Graça, Introdução à Música Moderna, 2.ª edição, Lisboa, Cosmos, 1946, pp. 5-6.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

poesia de cascais #20 - José Jorge Letria



A TENTADORA VOZ

Passei ontem à porta da casa onde nasci.
Rés-do-chão, fachada de azulejos verdes.
Nada no interior me lembrou a minha
presença naqueles quartos
que foram os da felicidade de meus pais,
num tempo austero e inquieto.
Chamei, mas ninguém respondeu,
nem sequer o eco da minha voz distante
inquirindo ventos, marés e estrelas
sobre o destino dos seres amados.

Um homem pode desdobrar-se, multiplicar-se
até ao limite da imaginação.
Foi o que fiz. E lá estava eu suplicante,
ao colo da minha avó, a perguntar
se a morte tinha cor e cheiro
e se os lobos da sua aldeia longínqua
não eram tão temíveis como os das gravuras
dos livros que me assombravam as noites.

Eram os anos do pós-guerra,
da paz minguada pela tristeza dos dias.
Eu descia, apertando as mãos dos meus pais,
até ao centro da vila, e tinha, como sempre,
o mar em frente a chamar por mim
com a tentadora voz do que não tem nome.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cascais no Campo da »Seara»: Proença, Cortesão e Reys (1)

A Bernard Emery
«Só há uma maneira de ter
cultura -- é fazê-la»
Raul Proença (1)
«Venho de percorrer muitos dos
caminhos do mundo.
Mas, através de hesitações e quedas,
sempre a luz me bateu de frente
no rosto. Já me sacrifiquei pelos
homens todos, pela beleza da
vida. Posso falar.» (2)
1. A Seara Nova: ou o patriotismo emergente do lodo
Cascais e o Estoril mereceram algumas linhas a três membros proeminentes da Seara Nova, que se constituíram ao mesmo tempo como «comissão política» da publicação. Raul Proença (1884-1941), Jaime Cortesão (1884-1960) e Câmara Reys (1885-1961). O primeiro, nas páginas do Guia de Portugal; o segundo, numa crónica ao seu melhor estilo épico; o último, numa obscura e para nós inexplicável edição de autor, ilustrada por Carlos Botelho. Motivos mais do que suficientes para sobre eles (textos e autores) nos debruçarmos brevemente, dando sequência a uma tentativa de levantamento do património literário cascaense.
(1) Apud José Rodrigues Miguéis, Uma Flor na Campa de Raul Proença, Lisboa, Bilbioteca Nacional, 1985, p. 21.
(2) «Cartas à Mocidade.I -- Queres ser um homem?», Seara Nova, n.º 3, Lisboa, 20 de Novembro de 1921, in Sottomayor Cardia (ed.), Seara Nova. Antologia. Pela Reforma da República, 1921-1926, vol. II, Lisboa, Seara Nova, 1972, p. 151.
Sol XXI, n.º 29-30-31, Carcavelos, Jun./Set./Dez. de 1999, p. 96.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Branquinho da Fonseca (Mortágua, 1905 - Malveira da Serra, 1974), RELATÓRIO DO CONSERVADOR DO MUSEU-BIBLIOTECA DO CONDE DE CASTRO GUIMARÃES (1943

Nomeado conservador do Museu-Bilbioteca do Conde de Castro Guimarães em 23 de Dezembro de 1941, tomei posse deste cargo em 2 de Janeiro do ano seguinte. A Comissão Administrativa informou-me pormenorizadamente acerca da vida do Museu nos últimos anos, e da orientação geral que conviria dar a certos serviços. Sugeri, então, à Comissão que se fizesse um Regulamento, ficando a meu cargo a elaboração desse projecto, o qual, inspirado em outros estatutos afins, de que é, em grande parte, apenas uma transcrição adaptada aos serviços deste Museu, foi presente à sessão de 5 de Julho de 1942. Foi encarregado da sua revisão o Vogal-Cultural, Sr. Luís Varela Aldemira, que numa das primeiras reuniões a que assistiu, também frisara a necessidade de se elaborar um regulamento, e que o modificou e melhorou em muitos artigos, principalmente na arrumação de certos assuntos, sendo definitivamente aprovado na reunião de 4 de Novembro de 1942, e entrando em vigor nessa data.


Branquinho da Fonseca, Relatório do Conservador do Museu-Biblioteca do Conde de Castro Guimarães (1943), Cascais, Câmara Municipal, 1997.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Luís Cardim (Cascais, 1879 - Porto, 1958), ATRAVÉS DA POESIA INGLESA (1939)

[Conferência proferida no Clube Fenianos Portuenses, em 5 de Agosto de 1938]
Senhor Presidente,
Minhas Senhoras,
Meus Senhores:
Perguntou alguém um dia a Sócrates, «porque tinha feito uma casa tão pequena»; e o filósofo respondeu, «que bem quisera vê-la cheia de verdadeiros amigos». Esta sala é bastante grande, a quadra estival vai adiantada, convidando mais ao silêncio dos campos, ou ao bulício das ondas, do que a ouvir importunas prelecções, e por isso eu, embora tão longe de Sócrates em todos os sentidos, não posso deixar de ver em V. Ex.as, em todos os presentes -- amigos bem verdadeiros. E quando não tenham vindo aqui por cativante bondade para comigo, mas por interesse pelas letras -- sendo amigos das letras, meus amigos também são. Muito e muito obrigado.
Luís Cardim, Através da Poesia Innglêsa (Apresentação dalgumas Traduções), Porto, Clube Fenianos Portuenses, 1939, p. 5.

domingo, 13 de setembro de 2009

poesia de cascais #19 - Vasco Graça Moura



falamos da chuva e da história e das catástrofes, mas eu aqui
estou, sem renunciar ao meu conforto e nem sequer a alguma
boa consciência, a alguma propensão para o consumo.
europeu e burguês, liberal e decadente, ne du tout fol ne du tout sage,
nem excessivamente solidário, nem excessivamente cúmplice,

tive amores e desamores, amarguras, negligências,
problematizei, exaltei-me e deprimi-me variamente,
e uma ordem do mundo é para mim como a colunata de piero,
modulada num espaço da razão: os sentimentos,
o mais lancinante, o mais prosaico, o mais sublime,

tornam-na deste mundo, apenas dele. e eu persisto
nas minhas contradições e nada vou mudar
no que não muda. passeio pelas manhãs de cascais
na luz molhada do inverno, e essa é a dimensão salina
das gaivotas e da maresia nas almas dos que dão

a volta dos tristes junto ao mar, entre heródoto e o
new york review of books. e todavia a música persiste,
enlaçando os destinos e o lugares, e vibra em mim,
que a trauteio e recuso, reconheço e deslembro,
interrompo e retomo, e há marcas na areia fosca,

onde as ondas se encovam regredindo, e vários pedregulhos,
lá em baixo, e os limos das coisas indecufráveis,
negros esgorregadios, frisados, repugnantes
quando vistos de perto na sua hirsuta qualidade.
tudo se faz dessas recitações, marulhos, roncas e

buzinas a entrarem-me pelo espaço da casa, como
sombras num halo dúbio dos espelhos, tensas,
misturadas memórias a desoras. uma carta no inverno
também é um golpe de misericórdia, traz clandestinamente
vaivéns, contrariedades, resistências, fluxos.

sábado, 12 de setembro de 2009

vícios


Um abraço à Austeriana, que já há muito gosta da Caverna.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

José da Cunha Brochado na Corte de Luís XIV (1)

«Os senhores da nossa terra cuidam que tudo
se obra por interesse para haver despachos e
mercês, e nada por fineza e inclinação natural
de brio e honra.»

José da Cunha Brochado
Carta a desconhecido
21 de Agosto de 1701

Nascido em Cascais, em 2 de Abril de 1651 (1), filho de António da Cunha da Fonseca, governador do castelo de São Jorge, e de Joana Quental -- cuja possibilidade de parentela como oratoriano Frei Bartolomeu do Quental, remoto antepassado de Antero, foi alvitrada por António Álvaro Dória (2) --, José da Cunha Brochado surge-nos como uma das mais proeminentes figuras dos séculos XVII e XVIII em Portugal, pela qualidade do legado epistolográfico e pelo brilho com que serviu o seu país enquanto diplomata, quase sempre em circunstâncias adversas.

(1) Segundo J. Sousa Mendes*, na introdução a José da Cunha BROCHADO, «Anedotas e Memórias da Corte de França» [1952-57] (Vértice, vol. XII, n.º 107, Coimbra, Julho de 1952, p. 356), faleceu em Lisboa, em 1735; informação diferente -- m. Sintra, 1733 -- dá-nos José Calvet de Magalhães, «José da Cunha Brochado (1651-1733)», Boca do Inferno, n.º 2, Cascais, Câmara Municipal, 1997, p. 161.

(2) António Álvaro Dória, prefácio a José da Cunha Brochado, Cartas, Lisboa, Lisboa, Livraria Sà da Costa Editora, 1944, p. VII.

*Pseudónimo do historiador Luís de Albuquerque.

José da Cunha Brochado na Corte de Luís XIV, Cascais, edição do autor, 1999, p. 7.

(continua)

domingo, 16 de agosto de 2009

Um escândalo póstumo -- A candidatura de Fernando Pessoa ao lugar de conservador do Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães (2)

Este período, de acordo com o seu mais conhecido biógrafo, caracterizou-se por uma grande perturbação do foro psíquico. Ao mesmo tempo, era atormentado pela urgência da organização da obra dispersa e inédita, numa corrida contra o tempo, que ele sabia faltar-lhe. (3)
(3) Ver João gaspar Simões, Fernando Pessoa. Breve História da Sua Vida e da Sua Obra, Lisboa, Difel, 1983, p. 98.
Sol XXI, n.º 24, Caracavelos, Março de 1998, p. 8.
(continua)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A. Fontoura da Costa (Alpiarça, 1869 - Cai-Água / S. Pedro do Estoril, 1940) - ÀS PORTAS DA ÍNDIA EM 1484 (1935)

Às Portas da Índia em 1484*
«Dois são os marcos miliarios do ciclo dos descobrimentos portuguezes; duas são as balizas especialmente gloriosas que se erguem na rota das Indias: o Cabo Bojador e o Cabo da Boa Esperança.
..................................................................................................................................
Dobrar o Cabo da Boa Esperança o mesmo era que determinar claramente a forma geographica da Africa e abrir as portas da India a mais felizes navegadores».

(Henrique Lopes de Mendonça -- Bartholomeu Dias e a rota da India, Lisboa, 1898, pág. 6).

1 -- Uma oportuna comunicação do professor Eugène Déprez ao Congresso das Ciência Históricas de Varsóvia (1) , em Setembro de 1933, veio rememorar a debatida questão: «qual o ano em que foram abertas as portas da Índia à armada do Gama?»

* Os primeiros capítulos devem considerar-se o preâmbulo do último.
Era indispensável a análise das primeiras viagens do reinado de D. João II. Sem ela não seria possível tratar das hipóteses que podem explicar a famosa passagem da notável Oração de Vasco Fernandes de Lucena -- razão deste trabalho. Creio ainda que esta análise, executada por quem praticou no mar, tem também a vantagem de poder encarar determinadas interpretações novas, que vêm rectificar algumas opiniões de vários historiadores.
(1) Eugène Déprez -- Les Portugais et le périple de l'Afrique en 1484 avant Dias (in Résumés des comunications presentées au Congrès de Varsovie. Vol. II, pág. 283 à 297). Varsovie, 1933.
Devo o conhecimento deste comunicação ao meu ilustre amigo, insigne historiador e admirador de D. João II, Joaquim Bensaúde. A ele devo igualmente o ter-me incitado a escrver este trabalho. os meus respeitosos agradecimentos.

A. Fontoura da Costa, Às Portas da Índia em 1484, Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 1990.

domingo, 9 de agosto de 2009

Regata do Atlântico Azul

A Caverna abre-se ao Atlântico Azul, um
grande blogue cascarejo. Visitem-no!...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma tela e uma sinfonia para o «Cascais» de Garrett (2)

Foi uma ligação tempestuosa. Apesar dos cuidados de ambos, Lisboa era demasiado pequena para que a conseguissem ocultar. Rosa Montúfar tinha também outros amantes, circunstância que provocava em Garrett penosas crises de ciúme.

Jornal da Costa do Sol, n.º 1550, Cascais, 22 de Janeiro de 1998, p. 14.
(continua)


Gravura retirada do magnífico blogue O Divino Almeida Garrett, de Cristina Futscher Pereira.

sábado, 1 de agosto de 2009

Três escritores em tempo de catástrofe: Castro, Zweig e Eliade (2)

Ferreira de Castro no Estoril: um intervalo na obra do escritor
Os pontos cardeias da geografia de Ferreira de Castro (1898-1974) são a aldeia de Salgueiros (freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis), onde nasceu; o Brasil amazónico, que formou a sua personalidade; Paris, por razões culturais e políticas; e Sintra, onde jaz, num sopé da serra, e lhe é consagrado um museu monográfico.
Boca do Inferno, n.º 3, Cascais, Câmara Municipal, 1998, p.92.
(continua)
Postado também no Ferreira de Castro

segunda-feira, 27 de julho de 2009

poesia de cascais #18 - José Gomes Ferreira



Areia

II

(Tenho uma casa alugada nos Lombos,
perto da praia de Carcavelos, onde todas
as manhãs convivo com os deuses.)

Quem és?

Tu que deixaste no céu pegadas de nuvens
e atravessaste o mar
com pés de espuma
para depois te perderes no bosque
vestida de areia
e farrapos de ventanias?

Quem és? Quem és?

(Sou eu a acrescentar o mistério do mundo
farto deste mistério de todos-os-dias.)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

José da Cunha Brochado (Cascais, 1651 -- Lisboa, 1733) - CARTAS

PRÓLOGO DO AUTOR
As muitas cartas particulares que fui obrigado a escrever, assistindo em Paris, em resposta das que recebia de pessoas que me honravam com a sua correspondência, ou que escrevia para conservar a sua amizade, ficavam copiadas, sem ordem, em papéis separados, porque a sua matéria não era necessária para justificar a contextura e progresso de alguma negociação recatada em cartas de ofício. Algumas destas cópias se acharam entre os meus papéis, que fiz transcrever neste peqeuno volume, para obedecer às suaves e honradas importunações de alguns amigos.
José da Cunha Brochado, Cartas, selecção, prefácio e notas de António Álvaro Dória, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1944, p. LXXIII.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A. Fontoura da Costa. Um capitão de longo curso na História dos Descobrimentos (1)

Apresentação de «A. Fontoura da Costa e a Marinharia dos Descobrimentos», exposição bibliográfica e documental patente no Museu do Mar, entre 18 de Maio e 31 de Outubro de 1997 [policopiado]
Uma exposição evocativa da figura do historiador e oficial de Marinha Abel Fontoura da Costa justifica-se só por si num espaço como o Museu do Mar. Há, porém, um outro aspecto que muito contribuiu para a realização desta pequena mostra. Fontoura da Costa foi munícipe do concelho de Cascais. A casa que mandou edificar em 1920, e onde viria a falecer -- no "Casal da Trindade", em S. Pedro do Estoril (então, Cai Água), tendo o mar como horizonte, amplo jardim e pomar onde coexistiam pássaros de vária espécies, em gailodos e em liberdade (1) --, serviu em grande parte como local de recolhimento para a elaboração da totalidade da sua obra historiográfica.

(1) Ver Calos Garcez de Lencastre, «Evocando Fontoura da Costa», prefácio a Às Portas da Índia em 1484, 2.ª ed., facsimilada, Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 1990.

(continua)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A. H. de Oliveira Marques (Cai-Água / S. Pedro do Estoril, 1933 - Lisboa, 2007) -- HANSA E PORTUGAL NA IDADE MÉDIA (1959)

Palavras de agradecimento

Seria difícil agradecer a todos aqiueles que nos auxiliaram na execução e conclusão deste trabalho, que fornecendo-nos elementos bibliográficos ou arquivísticos, quer sugerindo-nos hipóteses ou modificações, quer ainda ajudando-nos, por um incitamento, uma palavra amiga, um simples testemunho de apoio moral.

Hansa e Portugal na Idade Média, 2.ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1993, p. 9.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

poesia de cascais #17 - Fernando Grade



LUTÉCIA OU LUTH NO OUTRO VENTO DO GUINCHO
(Arte Maior)

«Não é justo antepor à sabedoria a mera força corpórea.»
(Xenófanes de Cólofon)


No fogo dos nervos, ao ranger dos ventos,
Todos os rostos são de palha em plena tarde:
Os olhos de malva ficaram cinzentos;
E o que foi gaivota torna-se leopardo.

«Queima os pulsos, foge de noite, ou esquece-a...»
-- Ouço uma voz lenta, ao longe nos sargaços.
Mas no sangue sinto a boca de Lutécia,
No bojo do seu corpo tenho os meus braços.

Como escapar (rápido) à fúria da foca?...
Pego em pedras, não, rasgo-lhe o púbis, cego-a,
Dispo-a, brutal, sim, com facas na boca.

Nos beijos fumados entre o lince e a égua,
Os olhos malvinos são (de novo) balas
-- E o nojo de Luth vai dentro das malas.

domingo, 21 de junho de 2009

Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (2)

Esta crítica foi causa próxima de um ensaio de Luís Cardim, publicado também na Seara, durante cinco números, entre 16 de Abril e 24 de Maio desse ano, sob o titulo «É o Hamlet representável?», posteriormente editado em volume, ligeiramente aumentado e com outro título: Os Problemas do «Hamlet» e as suas dificuldades cénicas. (A propósito do filme de Sir Laurence Olivier), Seara Nova, Lisboa, 1949 -- facto que a publicação anuncia em manchete (manchete ao estilo da Seara, claro está...), saudando o autor: «incontestavelmente a nossa primeira autoridade em língua e literatura inglesa, como o Dr. Paulo Quintela o é para a língua e literatura alemã.» (1)
(1) 25 de Junho de 1949.

Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996, p. 95.
Postado também no Ferreira de Castro.
(continua)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fernando Lopes-Graça (Tomar, 1906 - Parede, 1994), SOBRE A EVOLUÇÃO DAS FORMAS MUSICAIS (1940)



PREFÁCIO DA 2.ª EDIÇÃO
Publicado pela primeira vez faz dezanove anos, este livrinho teve a fortuna de ser bem acolhido tanto em Portugal como no Brasil, e há muito se achava esgotado. A ideia do seu editor de o reiprimir corresponde a uma penhorante solicitação do público. O autor achou conveniente fazer, não uma refundição, mas uma revisão do seu trabalho, expurgando-o de alguns erros, de certas imprecisões na exposição, e acrescentando-lhe, por outro lado, meia dúzia de linhas sobre os novíssimos aspectos que a matéria versada reveste. Uma sumária e talvez útil Bibliografia completa o ensaio -- título porventura ambicioso para um escrito que não pretende à originalidade, mas visa sobretudo um fim pedagógico.
Lisboa, Maio de 1959
F.L.G.
INTRODUÇÃO:
CONSIDERAÇÕES GERAIS
De todas as ideias filosóficas modernas, uma das mais espalhadas, mas também das mais perigosas, pelo seu abusivo emprego, é sem dúvida a de progresso. Justa e plenamente aceitável quando se trate das conquistas materiais e mesmo das relações sociais do homem, é todavia de melindrosíssimo uso quando aplicada às coisas do espírito e, mormente, à Arte.
Fernando Lopes-Graça, Sobre a Evolução das Formas Musicias, 2.ª edição, Lisboa, Editorial Inquérito, 1959, pp. 9/11.

domingo, 31 de maio de 2009

poesia de cascais #16 - Jorge de Sena


«SOPHIA DA MONARQUIA...»

Sophia da monarquia,
sofia republicana,
recebi a antologia,
corrigida e ampliada,
com sua dedicatória
de antiga amizade grada,
em que me anotas a história
e para a História registas
que em Creta tu te banhaste
no esplendor da maresia,
com o meu velho Minotauro..
Em Creta, com o Minotauro,
por onde andamos, Sophia!
Que outros poetas se banhem
em Estorises e Cascáises
de água turva lusitana.
A nós as ilhas da Grécia!
A nós a fonte do dia!
A nós o leite que mana
de ser-se sofia e Sophia!

13/10/1970

domingo, 24 de maio de 2009

Branquinho da Fonseca (Mortágua, 1905 - Malveira da Serra, 1974) - O BARÃO (1942)



Não gosto de viajar. Mas sou inspector das escolas de instrução primária e tenho obrigação de correr constantemente todo o país. Ando no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante. Na verdade lembro-me de alguns momentos agradáveis, de que tenho saudades, e espero ainda encontrar outros que me deixem novas saudades. É uma instabilidade de eterna juventude, com perspectivas e horizontes sempre novos. Mas não gosto de viajar. Talvez só por ser uma obrigação e as obrigações não darem prazer. Entusiasmo-me com a beleza das paisagens, que valem como pessoas, e tive já uma grande curiosidade pelos tipos rácicos, pelos costumes, e pela diferença de mentalidade do povo de região para região. Num país tão pequeno, é estranhável tal diversidade. Porém não sou etnógrafo, nem folclorista, nem estudioso de nenhum desses aspectos e logo me desinteresso. Seja pelo que for, não gosto de viajar. Já pensei em pedir a demissão. Mas é difícil arranjar outro emprego equivalente a este nos vencimentos. Ganho dois mil escudos e tenho passe nos comboios, além das ajudas de custo. Como vivo sozinho, é suficiente para as minhas necessidades. Posso fazer algumas economias e, durante o mês de licença que o Ministério me dá todos os anos, poderia ir ao estrangeiro. Mas não vou. Não posso. Durante esse mês quero estar quieto, parado, preciso de estar o mais parado possível. Acordar todas essas trinta manhãs no meu quarto! Ver durante trinta dias seguidos a mesma rua! Ir ao mesmo café, encontrar as mesmas pessoas!... Se soubessem como é bom! Como dá uma calma interior e como as ideias adquirem continuidade e nitidez! Para pensar bem é preciso estar quieto. Talvez depois também cansasse, mas a Natureza exige certa monotonia. As árvores não podem mexer-se. E os animais só por necessidade física, de alimento ou de clima, devem sair da sua região. Acerca disto tenho ideias claras e uma experiência definitiva. É até, talvez, a única coisa sobre que tenho ideias firmes e uma experiência suficiente. Mas não vou filosofar; vou contar a minha viagem à serra do Barroso.

O Barão, 4.ª edição, Lisboa, Portugália Editora, s. d., pp. 9-12.

sábado, 2 de maio de 2009

Obrigado, T

A T, dos Dias que Voam , é sempre de grande generosidade. Já me presenteou várias vezes, tanto na Caverna como no Ferreira de Castro . Agora foi este desenho de Barker, um artista que desconheço, um dos muitos e excelentes que tem publicado. Não percam.

domingo, 19 de abril de 2009

poesia de cascais #15 - Mário Avelar



a Jorge Vaz de Carvalho

Meditação 9.

Lucas 1.26. Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi
enviado por Deus a uma cidade da Galileia
chamada Nazaré... A caixa de música


Junto ao velho muro divago p'la casa.
Reconstruo passo a passo seus percursos.
Um sopro. Por favor, fala comigo. Please,
just talk to me... A voz de Gabriel levando-me

para longe: Cascais, o remoto verão
quente de 75. Mês d'Agosto,
talvez. O povo está com o M.F.A.
A rajada de G3... para o ar, diz

com gestos o alferes. Distante, nas tábuas,
um velho cai de joelhos: a caixa de
música. Singulares fumos e odores

envolvem o infante. Feixes de luz cruzam
o espaço dominado pela voz de
Gabriel, um irmão, sob o signo do Touro.

Luís Cardim (Cascais, 1879 - Porto, 1958), PROJECÇÃO DE CAMÕES NAS LETRAS INGLESAS (1940)

PALAVRAS PRÉVIAS
O presente trabalho é constituído pela adaptação a Caderno Cultural duma conferência realizada, em Agosto de 1939, no Curso de Férias da Faculdade de Letras de Lisboa, por muito amável e honroso convite da sua ilustre Comissão Directiva.
Luís Cardim, Projecção de Camões nas Letras Inglesas, Lisboa, Editorial Inquérito, 1940.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Bernardino Machado na Cidadela

No blogue dedicado a Bernardino Machado, de Manuel Sá-Marques
Foto de 1917, Bernardino com Norton de Matos e Leote do Rego.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Almada Negreiros, MATERNIDADE (1948)

-- Nos desenhos da Maternidade, o menino transforma-se num pássaro, num mosquito, numa coisa, desfeito em brinquedo nas mãos da mãe. No fim já é só um frangalho.
-- Onde é que foram feitos os desenhos da Maternidade?
-- Os desenhos da Maternidade foram feitos em Bicesse, num dia entre as 10 da manhã e as 8 da noite.
Para mim foi uma coisa maravilhosa!
Desceu a rir a escada do quarto que vem a dar à sala. Vinha muito bem-disposto, com uma resma de papel debaixo do braço: «Olha, diz, para me trazerem o pequeno-almoço e que mo ponham na mesa de pedra.» Era ali, naquela mesa de mó de moinho que ele gostava de tomar o pequeno-almoço no Verão. Tomou o pequeno-almoço, pôs de lado o tabuleiro e começou a desenhar.
Era maravilhoso!
Depois veio o almoço. Voltou-se a tirar os papéis, comemos, acabámos e voltou ao desenho.
Depois veio o lanche e voltou até à noite.
Não assinou, pôs só 48, foi em Agosto.

Maria José Almada Negreiros, Conversas com Sarah Affonso, 2.ª edição, Lisboa, o jornal, 1985, pp. 150-151.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

poesia de cascais #14 - António Graça de Abreu



Outono, na casa das Areias, S. Pedro do Estoril

Depois de uma noite de chuva
tudo claro e limpo.
A buganvília, as árvores pequenas,
cada uma com a sua seiva.
Os pardais, os melros negros,
cada um com o seu trinar.
Os insectos, as moscas,
cada uma com o seu voar.
Por baixo, insondável a grandeza da terra,
por cima, infinita a altura do céu.
Fácil, entrever a aparência das coisas,
difícil, penetrar na essência do todo

sexta-feira, 27 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

poesia de cascais #13 - Jorge Marcel

senhor poeta desculpe mas deveria
por nascido em Cascais ser mais respeitador
você que tem olho para o brilho do brunido
nunca notou o inconfundiveloso ar
com que os testas-coroados esvoaçam a baía?
não lhe chegariam a si os dedos
das suas quatro curtas proletárias extremidades
para atingir o número de avenidas
que na sua simpática vila têm
nome de rei ou arquiduque-passa
graças a deus que os seus camariosos
têm sido ao presente bem nascida
e não se dimentique
tivesse o yacht areado noutra areia
anadaria agora o poeta aos polvos
sem aprender a usar gravata-laço
senhor poeta desculpe mas deveria
ser no que escreve um ponto menos grosseirote
ser mais à reverência e não causar
com o seu verso francamente vil, baixote
à hora do almoço do exílio ao domicílio
tanto alvoroço tanto quezílio tanto embaraço

sábado, 14 de março de 2009

A. FONTOURA DA COSTA (Alpiarça, 1869 - Cai-Água / S. Pedro do Estoril, 1940) - A EVOLUÇÃO DA PILOTAGEM EM PORTUGAL (1931)

Discurso lido na sessão inaugural da abertura das aulas da Escola Naval, no dia 11 de Outubro de 1930.
Senhor Presidente da República
Meus Senhores
Camaradas:
Sendo hoje a primeira vez que se reaiza uma sessão inagural da abertura das aulas da Escola Naval, na vigência do regimen republicano, é justo que comece por prestar a mais sincera e saudosa homenagem aos ilustres professores que abandonaram o magistério após o anos de 1910.
A. Fontoura da Costa, A Evolução da Pilotagem em Portugal, Lisboa, Imprensa da Armada, 1931, p. 5.

domingo, 8 de março de 2009

poesia de cascais #12 - Fiama Hasse Pais Brandão


DA COSTA DE CASCAIS

Aqui, na orla do mar, as cruzes
são sinais de pescadores perdidos
no fundo, mortos, quando buscam
o sal da vida. Em vez de a sua força
fazer ceder a vaga sob o anzol,
é a força do mar ou a paixão da vida
-- arquejante e morta --
que os puxa para um purgatório
de água revolta e de limos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

JOSÉ DA CUNHA BROCHADO (Cascais, 1651 - Lisboa, 1733) - "Embaixador mesquinho"

Resolvendo a Rainha D. Catarina voltar para Portugal depois da última revolução de Inglaterra mandou El-Rei o Conde de Pontevel para a conduzir em qualidade de Embaixador a quem deu grossas ajudas de custo. Partiu ele de Lisboa, e segundo dizem com muito pobre equipagem, e de nenhum modo em grande Senhor. Chegando a Orleães encontrou a Manuel Dias, Capelão da Rainha, que trazia ordem para o fazer voltar para Portugal, por quanto S. Mag.de não podia por então sair de Inglaterra a que o Conde replicou, que ele havia de fazer a sua jornada, e dela não havia de desistir sem ordem do seu Rei. Instou o Padre com as mais fortes razões, que pôde, mostrando uma carta expressa da Rainha, e sendo esta circunstância notavelmente diversificante do estado das cousas, e que ele ao menos devia fazer presente ao seu Príncipe para com a sua resolução continuar a jornada, ou voltar-se, nada obrou, e porfiosamente propôs segui-la, dando a entender que não queria perder a jóia, e utilidades, que esperava tirar desta função. [...]

Memorias de José da Cunha Brochado Extrahidas das Suas Obras Ineditas por Mendes dos Remedios, Coimbra, França Amado Editor, 1909, p. 1; edição fac-similada, Cascais, Câmara Municipal, 1996.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

linhas de cascais - Vergílio Ferreira



Havia damas que nunca se viam na rua. Vira-as ele, Chico, fumando e bebendo no Estoril. Évora era a Queresma e Lisboa o Carnaval.

Vergílio Ferreira, Aparição, Lisboa, Editorial Verbo, 1971, p. 31.

Pessoa em Bicesse

-- O quadro do Fernando Pessoa foi feito aqui em Bicesse, no atelier do pinhal, não foi?

-- Foi.

Maria José Almada Negreiros, Conversas com Sarah Affonso, 2.ª edição, Lisboa, O Jornal, 1985, p. 82.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

linhas de cascais - Assis Esperança



O paquete passa à vista de Cascais, numa manhã de sol radioso. No deck, ao lado de Rui, um grupo de ingleses prepara os kodaks; mais além, um sujeito de calva luzidia demonstra a uma senhora magrizela e empoada de rosto, que o seu guia era incompletíssimo, não assinalando, um a um, todos os pequenos aglomerados de casaria que bordam as margens do rio.

Assis Esperança, «O homem que perdeu o passado», O Dilúvio, Lisboa, Sociedade Contemporânea de Autores, 1932, p. 129.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um escândalo póstumo - A candidatura de Fernando Pessoa ao lugar de conservador do Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães (1)


Publicado em Sol XXI, n.º 24, Carcavelos, Março de 1998
Cascais, disse Pessoa, que belo
sítio, eu também lá passei alguns dias
Antonio Tabucchi
Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa
Em 1933, Fernando Pessoa (1888-1935) fez-se fotografar em S. João do Estoril, na casa de sua meia-irmã Henriqueta Madalena Rosa Dias, mulher do coronel Caetano Dias, com quem o poeta dirigiu a Revista de Comércio e Contabilidade (1926) (1). Precocemente envelhecido, está junto da família, com uma normal dimensão humana. Prestamos especial atenção aos sobrinhos, Maria Manuela (Lili) e Luís Miguel, aos quais dedicou um terno afecto, comprovado pela iconografia, bem como pelos Poemas para Lili -- um dos quais, «No comboio descendente», foi popularizado por José Afonso. (2)
(1) Conhecem-se mais dois registos fotográficos no mesmo local, datados de 1934 ou 35. Ver Maria José de Lancastre, Fernando Pessoa. Uma Fotobiografia, s. ed., Lisboa, Quetzal Editores, 1996, pp. 267, 269 e 284.
(2) Numa entrevista ao JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, por ocasião do cinquentenário da morte de Pessoa, concedida a Maria Ivone Ornellas de Andrade, Henriqueta Madalena aludiu ao relacionamento de camaradagem que mantinham tio e sobrinhos: «Davam-se muito bem. Ele tinha uma paciência infinita. A Maria Manuela, só então Lili, brincava com ele de barbeiro e de manicura. Divertiam-se muito. O Luís miguel, embora pequeniníssimo, também entrava nas brincadeiras. O Fernando adorava fazer surpresas: costumava trazer sempre um presentinho para a minha filha, que escondia debaixo do guardanapo.» Cit. por Apud Fernando Pessoa, Escritos Íntimos. Cartras e Páginas Autobiográficas, introduções, organização e notas de António Quadros, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1986, p. 257.
(continua)
 
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