quinta-feira, 20 de agosto de 2015

linhas de cascais - Olga Gonçalves

imagem

«Sim, aparece gente, lá em cima, nos rochedos, mas não faz mal. Veja lá se os estrangeiros se importam! É por isso que eu lá em Lisboa, gosto de ir para o Estoril. Com os estrangeiros não há preocupações.»






Olga Gonçalves, Floresta em Bremerhaven (1975)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

linhas de cascais - Tomaz Ribas

«À janela do seu quarto do elegante bungalow do Estoril, Nina olhava o mar. O sol doirado e suave dos primeiros dias de Verão caía lentamente e deixava atrás de si uma faixa luminosa que brilhava sobre o azul transparente e brilhante do mar. A brisa vinda de longe enrugava levemente as águas, varria a areia e corria sobre a terra fazendo baloiçar as árvores dos parques e jardins. A tarde ia a meio e Nina acabava de se arranjar nesse momento. Esperava visitas. Contra o seu hábito, naquela tarde arranjou-se mais cedo. Quando olhou para o relógio e viu que não eram ainda horas dos convidados começarem a chegar, abriu a janela e debruçou-se à varanda.  A luminosidade da tarde e o azul do mar deram-lhe uma sensação de tranquilidade. Nina gostava da luz do mar. Sentou o desejo de sair de casa, despir-se e correr sobre a areia, correr junto da água. Inclinou a cabeça, deixou que a brisa lhe desprendesse os cabelos e fixou os olhos ao longe... no oceano.»

Cais das Colunas (1959)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

linhas de cascais - Fernando Faria

«O almocreve andava constantemente naquele vaivém de mercador, correio, estafeta e distribuidor -- um dia para ir, outro para regressar --, feito em grande parte pelos caminhos tortuosos da serra. Conhecia-lhe a rotina desde que há muitos anos, criança ainda, começara a acompanhar o pai naquela dura lida: abalada do terreiro da vila, junto ao paço real, pelo meio da manhã, com a carroça carregada e machos bem alentados para a jornada; passagem pelas várias aldeias que havia no caminho entre as suas vilas -- Azóia, Biscaia (lugar altaneiro este e voltado ao mar, onde costumava jantar num albergue que lá havia), Malveira da Serra, Aldeia de Jus[o], Birre..., e chegada ao largo do pelourinho de Cascais, pelo cair da tarde.»

O Noviço -- Do Paço de Azeitão ao Convento dos Capuchos, Lisboa, By The Book, 2015.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

linhas de cascais -- Júlia Nery

«Depois de emborcarem canecas no Jardim da Cerveja, os três rapazes tinham desaguado no quarto do Teco, onde havia sempre hospitalidades de charros e speeds

Valéria, Valéria (1998)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

linhas de cascais -- Camilo Castelo Branco

«Domingos José Correia Botelho de Mesquita e Meneses, fidalgo de linhagem e um dos mais antigos solarengos de Vila Real de Trás-os-Montes, era em 1779, juiz-de-fora de Cascais, e nesse mesmo ano casara com uma dama do paço, D. Rita Teresa Margarida Preciosa da Veiga Caldeirão Castelo Branco, filha dum capitão de cavalos, neta de outro, António de Azevedo Castelo Branco Pereira da Silva, tão notável por sua jerarquia, como por um, naquele tempo, precioso livro acerca da Arte da Guerra.»

Amor de Perdição (1862)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

linhas de cascais - Fernando Pessoa

Na Casa de Saude de Cascaes

     inclue: -- (1) Introdução, entrevista com António Mora.
                     (2) Alberto Caeiro.
                     (3) Ricardo Reis.
                     (4) Prolegómenos de Antonio Mora.
                     (5) Fragmentos.  

Vida e obras do engenheiro Alvaro de Campos


Livro do Desassocego

     
     escripto por Vicente Guedes, publicado por Fernando Pessoa.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares (edição de Jacinto do Prado Coelho, com Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobra Cunha) 

domingo, 28 de setembro de 2014

linhas de Cascais -- Carlos Querido

«No dia 4 de Novembro do ano de 1715, aguardava-nos o mar inquieto, agitado por uma forte nortada, rasgado por ondas que se despenhavam na praia de Cascais com estrondo e espuma. Transido de frio e de medo, o mestre da embarcação de pesca Aurora tirou respeitosamente o barrete, que apertava nervoso entre as mãos calejadas, enquanto balbuciava palavras desconexas sobre o mar ruim e o perigo para a vida de Sua Alteza. Pareceu-me ver a mesma súplica no olhar de D. Manuel Teles da Silva, mas o Infante foi inflexível, e seguimos viagem. A Virgem Santíssima nos guie, disse o mestre antes de embarcar, e todos os remadores se benzeram. Em silêncio, fustigados pelo vento e pela chuva, que começava a cair, escalávamos as ondas que se erguiam, abruptas, à proa, para nos despenharmos depois na sua passagem, num remoinho que parecia arrastar-nos para o abismo, evitado pela perícia dos remadores, rijos e hábeis, habituados à fúria do mar.»

A Redenção das Águas (2013)

sábado, 7 de junho de 2014

650 anos da vila de Cascais


A 7 de Junho de 1364, D. Pedro I outorgou carta de vila à aldeia piscatória de Cascais, até então pertencente ao concelho de Sintra.
imagem daqui

sexta-feira, 2 de maio de 2014

linhas de Cascais - Alves Redol

«Só dois homens estariam aptos a flutuar, ao que depois se averiguou. Julinha Quintela explicou a Miguel e à mulher, muito enciumada com o devaneio marital, que já estivera em Cascais três horas dentro de água. Era uma delícia.»

Barranco de Cegos (1961)


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

poesia de cascais - António Torrado


DONA VANDA

Dona Vanda
Vitorino
de Verdasca
Vale Velez
deu um berro
Vasconceeeelos!
que se ouviu
em Carcavelos.

Veio a vila
toda vê-la.
Só não veio
o Vasconcelos
que não estava
em Carcavelos.

in Maria de Lourdes Varanda & Maria Manuela Santos, Poetas de Hoje e de Ontem -- Do Século XIII ao XXI para os Mais Novos, s.l., Edições Chimpanzé Intelectual, 2007.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Nadir Afonso (Chaves, 4.II.1920 -- Cascais, 11.XII.2013)

O grande Nadir Afonso, tão cosmopolita, tão único, tão ligado a Cascais.

P&R [pergunta e resposta] - Pedro Burmester

Porque é que depois, no meio de um programa clássico, incluis Fernando Lopes-Graça, que nunca tinhas tocado, e Gyorgy Ligeti, dois compositores mais contemporâneos?  Lopes-Graça é um compositor extraordinário. Um dos mais importantes vultos da cultura portuguesa do século XX, a par de um Pessoa, ou de um Saramago. Não é um compositor fácil, nem para tocar, nem para ouvir. Não cede nunca a facilitismos, muito coerente, muito sério no seu trabalho, com um conhecimento da escrita incrível, e que vai beber quase sempre à grande riqueza da música tradicional portuguesa. Simbolicamente, esta é a primiera obra que escreve para piano, em 1923. Portanto, é uma obra já com quase 100 anos. Mas já lá está tudo. É uma variação sobre um tema tradicional português, que ele não explica qual é. Espero que esta seja a primeira de mais obras de Lopes-Graça que gostaria de tocar no futuro.
Entrevista a Valdemar Cruz, Expersso / Actual #2145, 7.XII.2013.

sábado, 14 de setembro de 2013

poesia de cascais - Ibn Mucana

1. - Ó tu que habitas Alcabideche, não te faltará o grão nem terás escassez de cebolas, nem de abóboras!
2. - Se és homem enérgico não te faltará a nora das nuvens, sem necessidade de mananciais,
3. - pois a terra de Alcabideche, quando o ano é bom, não produz mais que vinte cargas de cereais,
4. - e se der alguma coisa mais, chegam as manadas de javalis reiteradamente.
5. - Há pouca coisa útil nesta terra, como em mim próprio que sou duro de ouvido.
6. - Deixei os reis cobertos com os seus mantos, deixei de ir em seus cortejos.
7. - Converti-me em Alcabideche em colhedor de espinhos com uma foice guarnecida e afiada.
8. - E se me perguntam: Gostas? Respondo-lhes: "O amor à liberdade faz parte do carácter nobre".
9. - O apreço e os benefícios de Abu Bakr al-Muzaffar conduziram-me até aqui, à minha morada.

versão de María de Jesús Rubíera Mata
(trad. Pepita Tristão)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

linhas de cascais - João Gaspar Simões

Desceu em Cascais e foi andando até à beira mar. Não havia lua, mas a noite estava clara. As estrelas irradiavam sobre a terra uma luz de diamante. Tornejou o Museu Castro Guimarães, atravessou a ponte, abeirou-se da falésia. Em baixo, o mar ondulava, possante e negro: parecia uma fera dormindo. Céu e mar confundiam-se. Juvenal nunca tinha visto as estrelas tão baixas no horizonte: entravam, parecia, pelo próprio oceano. Tirou o chapéu, ergueu a cabeça para o alto. A brisa, repassada de maresia, enchia-lhe o peito. Veio-lhe, de repente, uma ânsia insofrida de ar livre, de imensidão, de paz no seio da natureza! Por entre os troncos contorcidos via brilhar, ao longe, os lampiões da Costa do Sol. Dir-se-iam outras tantas estrelas, mais pálidas, que o mar prolongasse de reflexos.

Pântano (1940)
 
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