O grande Nadir Afonso, tão cosmopolita, tão único, tão ligado a Cascais.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
P&R [pergunta e resposta] - Pedro Burmester
Porque é que depois, no meio de um programa clássico, incluis Fernando Lopes-Graça, que nunca tinhas tocado, e Gyorgy Ligeti, dois compositores mais contemporâneos? Lopes-Graça é um compositor extraordinário. Um dos mais importantes vultos da cultura portuguesa do século XX, a par de um Pessoa, ou de um Saramago. Não é um compositor fácil, nem para tocar, nem para ouvir. Não cede nunca a facilitismos, muito coerente, muito sério no seu trabalho, com um conhecimento da escrita incrível, e que vai beber quase sempre à grande riqueza da música tradicional portuguesa. Simbolicamente, esta é a primiera obra que escreve para piano, em 1923. Portanto, é uma obra já com quase 100 anos. Mas já lá está tudo. É uma variação sobre um tema tradicional português, que ele não explica qual é. Espero que esta seja a primeira de mais obras de Lopes-Graça que gostaria de tocar no futuro.
Entrevista a Valdemar Cruz, Expersso / Actual #2145, 7.XII.2013.
sábado, 14 de setembro de 2013
poesia de cascais - Ibn Mucana
1. - Ó tu que habitas Alcabideche, não te faltará o grão nem terás escassez de cebolas, nem de abóboras!
2. - Se és homem enérgico não te faltará a nora das nuvens, sem necessidade de mananciais,
3. - pois a terra de Alcabideche, quando o ano é bom, não produz mais que vinte cargas de cereais,
4. - e se der alguma coisa mais, chegam as manadas de javalis reiteradamente.
5. - Há pouca coisa útil nesta terra, como em mim próprio que sou duro de ouvido.
6. - Deixei os reis cobertos com os seus mantos, deixei de ir em seus cortejos.
7. - Converti-me em Alcabideche em colhedor de espinhos com uma foice guarnecida e afiada.
8. - E se me perguntam: Gostas? Respondo-lhes: "O amor à liberdade faz parte do carácter nobre".
9. - O apreço e os benefícios de Abu Bakr al-Muzaffar conduziram-me até aqui, à minha morada.
versão de María de Jesús Rubíera Mata
(trad. Pepita Tristão)
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terça-feira, 6 de agosto de 2013
linhas de cascais - João Gaspar Simões
Desceu em Cascais e foi andando até à beira mar. Não havia lua, mas a noite estava clara. As estrelas irradiavam sobre a terra uma luz de diamante. Tornejou o Museu Castro Guimarães, atravessou a ponte, abeirou-se da falésia. Em baixo, o mar ondulava, possante e negro: parecia uma fera dormindo. Céu e mar confundiam-se. Juvenal nunca tinha visto as estrelas tão baixas no horizonte: entravam, parecia, pelo próprio oceano. Tirou o chapéu, ergueu a cabeça para o alto. A brisa, repassada de maresia, enchia-lhe o peito. Veio-lhe, de repente, uma ânsia insofrida de ar livre, de imensidão, de paz no seio da natureza! Por entre os troncos contorcidos via brilhar, ao longe, os lampiões da Costa do Sol. Dir-se-iam outras tantas estrelas, mais pálidas, que o mar prolongasse de reflexos.
Pântano (1940)
sábado, 25 de maio de 2013
linhas de cascais: Francisco Costa

Em certo dia do reinado de D. João I, talvez nesse período atribulado e heróico das guerras com Castela, dois velhinhos dos arredores de Lisboa foram avisados em sonho de que a Virgem Santíssima lhes apareceria num local distante e deserto.
[...] Ele era de Alcabideche, uma das aldeias da planície onde os ventos se precipitam das penhas nevoentas de Sintra. E indiferente aos rigores do tempo e às fadigas, lá foi de terra em terra, inquirindo e esmolando, esfarrapado, com o corpo sujo de pó e de lama, e a alma cheia de luz.
[...]
A fé ganhou também cidade; subiu aos paços reais e aos paços eclesiásticos. No começo do século XVII, um rapaz de Carnaxide e uma velhinha de Alcabideche, instruídos apenas pela sua ardente fé, organizaram a Confraria de Nossa Senhora do cabo, formada por 30 freguesias do termo de Lisboa.
[...]
A encantadora origem deste culto por Nossa Senhora do Cabo, a forma enternecedora como a suave posse da Santa Imagem se reparte por igual numa área tão vasta e populosa, demonstram que o espírito dos povos saloios -- tão mal compreendido, tão caluniado por vezes -- é bem capaz de elevação e delicadezas comoventes. [...]
«Aparição e culto de Nossa Senhora do Cabo -- Uma criação da alma saloia» (1937)
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quinta-feira, 25 de abril de 2013
linhas de cascais - Mário Cláudio
Porto, sexta-feira, 11 de Maio de 2012
Morre em estranhas circunstâncias Bernardo Sassetti, o autor da música de "Retrato", cantado por Carlos do Carmo, sobre poema meu. Despenhado numa falésia da Praia do Guincho, quem sabe se voluntariamente, por por mal de amor, leu o que eu não li nas minhas linhas, e inventou-me um clima que afinal era meu.
«Diário», JL_Jornal de Letras, Artes e Ideias, #1110, Lisboa, 17 de Abril de 2013.
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domingo, 24 de fevereiro de 2013
linhas de cascais - Miguel Sousa Tavares
Mas, num final de tarde, escapamos do palácio à beira-mar e do seu enredo e apanhamos um táxi para Mondello, uma espécie de Cascais de Palermo, só que parada no tempo e não dizimada pelos comendadores do betão armado.
«Regresso ao lugar do espanto», 2013.
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domingo, 17 de fevereiro de 2013
poesia de cascais - Afonso Duarte
Já meu reino foi calvário
Lá nos mares da TaprobanaNem tocou a igual sudário
A trombeta castelhana.
Se, como rosas de Abril,
Tem as praias do Estoril,
Já meu reino foi calvário.
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
linhas de cascais - José Marmelo e Silva
Que sanguessuga, não calculam! De nada me valia mudar de quarto ou de café. Tinha um faro verdadeiramente policial. Perseguia-me tenazmente na Baixa, no Estoril, no Arcádia. Quantas vezes contrafeito me levara! A carraça! Estou a vê-la. Um belo lábio longo, entumecido, soberbo.
Depoimento (1939)
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
linhas de cascais - Sarah Adamopoulos
Ela nunca o tinha visto na vida. Olhou em redor e tentou adivinhar. Não, não podia ser aquele. Aquele era um homem que tinha o cabelo louro e uma camisa às risquinhas. Tinha também uns sapatos com berloques. Cascais casual look.
A Vida Alcatifada (1997)
A Vida Alcatifada (1997)
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sábado, 12 de janeiro de 2013
linhas de cascais - Jorge Amado
O ministro recordaria o facto certamente, datava apenas de um ano: o então conselheiro da embaixada fora preso pela polícia lusitana quando, bêbado como uma cabra, tomava banho nu na praia elegante do Estoril, à meia-noite, em companhia da esposa do ministro salazarista das Obras Públicas, nua ela também, sem ter sequer longos cabelos com que cobrir o corpo «como o fazia Eva no Paraíso».
Os Subterrâneos da Liberdade -- I Os Ásperos Tempos (1954)
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