sábado, 25 de maio de 2013

linhas de cascais: Francisco Costa


Em certo dia do reinado de D. João I, talvez nesse período atribulado e heróico das guerras com Castela, dois velhinhos dos arredores de Lisboa foram avisados em sonho de que a Virgem Santíssima lhes apareceria num local distante e deserto.

[...] Ele era de Alcabideche, uma das aldeias da planície onde os ventos se precipitam das penhas nevoentas de Sintra. E indiferente aos rigores do tempo e às fadigas, lá foi de terra em terra, inquirindo e esmolando, esfarrapado, com o corpo sujo de pó e de lama, e a alma cheia de luz.
[...]
A fé ganhou também cidade; subiu aos paços reais e aos paços eclesiásticos. No começo do século XVII, um rapaz de Carnaxide e uma velhinha de Alcabideche, instruídos apenas pela sua ardente fé, organizaram a Confraria de Nossa Senhora do cabo, formada por 30 freguesias do termo de Lisboa.
[...]
A encantadora origem deste culto por Nossa Senhora do Cabo, a forma enternecedora como a suave posse da Santa Imagem se reparte por igual numa área tão vasta e populosa, demonstram que o espírito dos povos saloios -- tão mal compreendido, tão caluniado por vezes -- é bem capaz de elevação e delicadezas comoventes. [...]

«Aparição e culto de Nossa Senhora do Cabo -- Uma criação da alma saloia» (1937)

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