terça-feira, 6 de agosto de 2013

linhas de cascais - João Gaspar Simões

Desceu em Cascais e foi andando até à beira mar. Não havia lua, mas a noite estava clara. As estrelas irradiavam sobre a terra uma luz de diamante. Tornejou o Museu Castro Guimarães, atravessou a ponte, abeirou-se da falésia. Em baixo, o mar ondulava, possante e negro: parecia uma fera dormindo. Céu e mar confundiam-se. Juvenal nunca tinha visto as estrelas tão baixas no horizonte: entravam, parecia, pelo próprio oceano. Tirou o chapéu, ergueu a cabeça para o alto. A brisa, repassada de maresia, enchia-lhe o peito. Veio-lhe, de repente, uma ânsia insofrida de ar livre, de imensidão, de paz no seio da natureza! Por entre os troncos contorcidos via brilhar, ao longe, os lampiões da Costa do Sol. Dir-se-iam outras tantas estrelas, mais pálidas, que o mar prolongasse de reflexos.

Pântano (1940)
 
Golf
Golf