sábado, 12 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sob o signo do «Dragão da Crítica»: romancistas, poetas, ensaístas e historiadores em Cascais (7)

A Casa do «Dragão da Crítica»
Romancista, ensaísta, memorialista e dramaturgo, João Gaspar Simões (1903-1987) é o crítico por antonomásia, pelas décadas de escrita em que pontificou nos principais jornais do país: Diário de Lisboa, Diário Popular e Diário de Notícias, além de muitas outras publicações periódicas. Autor de uma obra vastíssima em que avultam as biografias de Eça de Queirós (1945) e Fernando Pessoa (1950), Simões é também um dos pais fundadores do chamado segundo modernismo português, tendo dirigido com José Régio e Branquinho da Fonseca uma das principais revistas literárias do século XX - a presença.




[a Casa do Dragão em construção, 1942/43]




O novelista de Elói ou Romance numa Cabeça mandou erigir uma magnífica moradia -- encomendando o projecto a um arquitecto local, Joaquim Ferreira (1911-1966) -- situada na Avenida Emídio Navarro. Nela residiu entre 1943 e 1957, período a que respeitam e onde foram redigidas (parcialmente, a primeira) as já referidas biografias marcantes de Eça e Pessoa. É nesta última que se publica pela primeira vez o célebre requerimento de 1932, com que o poeta se candidatou ao lugar de conservador do Museu Condes de Castro Guimarães (26), documentação que lhe foi facultada por Branquinho da Fonseca, então director da instituição. (27)

[.ª edição de Eça de Queiroz -- O Homem e o Artista]
A «Casa do Dragão» foi assim crismada pelo arquitecto, uma vez que a fama de condicionar percursos de livros e autores, mediante uma sua crítica, positiva ou desfavorável, já estava perfeitamente adquirida. O tradicional galo do catavento foi assim substituído por um dragão, pois, segundo Joaquim Ferreira, Gaspar Simões era um autêntico «Dragão da Crítica». (28)


[o catavento do Dragão. Foto de Guilherme Cardoso]






Do muito a que se assistiu dentro daquelas quatro paredes, as memórias e correspondências, entre outras fontes, farão algumas revelações. Para já, registemos uma das primeiras leituras que ali tiveram lugar da peça de Jorge de Sena (1919-1978), O Indesejado (António, Rei) -- um dos grandes textos da dramaturgia portuguesa de novecentos -- em 30 de Dezembro de 1944, na presença da actriz Manuela Porto (1908-1950). (29). Leitura de que, dias mais tarde, a 7 de Janeiro, dará notícia ao ensaísta Guilherme de Castilho (1912-1987) -- também com fortes ligações ao concelho de Cascais, de que tratarei noutra oportunidade: «Dos dois actos prontos, fiz três audições privadíssimas (uma na «Casa do Dragão», em Cascais -- bela casa, está-se lá admiravelmente![)]». (30)


NOTAS

(26) Fernando Pessoa -- A Biblioteca Impossível, com prefácio de Teresa Rita Lopes, Cascais, Câmara Municipal, 1995.
(27) João Gaspar SIMÕES, Vida e Obra de Fernando Pessoa, 5.ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1987 : 592, n.14.
(28) Informação que me foi dada pela filha do escritor, Maria Joana Gaspar Simões Alpuy.
(29) Jorge de SENA, O Indesejado (António, Rei), 3,ª edição, Lisboa, Edições 70, 1986 : 177.
(30) Jorge de SENA e Guilherme de CASTILHO, Correspondência, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981 : 49-50.
 
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