quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

linhas de cascais - José Saramago

«O Chico anda agora influidíssimo com uma bailarina inglesa do Casino do Estoril, e ninguém o vê. Telefona-me às vezes para se gabar -- e que bem que ele sabe gabar-se.»

Manual de Pintura e Caligrafia (1977)

domingo, 25 de novembro de 2012

Histórias da História de Cascais

O livro será de 1998, mas só há pouco o li. Esplêndido livrinho de Maria da Graça Pessoa de Amorim e Isabel Minhós Martins, texto corrido e adequado para crianças a partir dos 8/9 anos; as ilustrações são um mimo e ganhariam em ser coloridas, como se vê pelo barrigudo D. Carlos da capa... Numa nova edição, que deverá ser um pouco mais cuidada, é conveniente identificar autoras: quem escreve e quem desenha.
Recomendo vivamente.

P.S. Se alguém quiser ver o verdadeiro rosto do grande Ibn Mucana, vá à página... Bolas, não estão numeradas! Mas vá, que a obrinha é pequena e encontra-o num instante. :)

linhas de Cascais -- Sérgio Luís de Carvalho

«No bairro de S. Pedro, no caminho para o Ramalhão, está a gafaria de Sintra. O cemitério onde os que sofrem do mal de S. Lázaro são enterrados é um pouco mais à frente. Coisa comum é os gafos postarem-se junto à estrada que vai para Lisboa e para Cascais, pedindo esmola àqueles que passam.»

Anno Domini 1348 (1990)

terça-feira, 31 de julho de 2012

linhas de cascais - Diogo Freitas do Amaral

No último JL, depoimentos sobre férias:
«O tempo de férias era passado, em Julho e Agosto, numa pequena casa alugada em Cascais e, em Setembro, na "Casa da Eira", perto de Guimarães. Em Cascais, ia à praia de Nossa Senhora da Conceição e, a partir dos 14 ou 15 anos, à magnífica praia do Guincho (para mim, a mais bonita do mundo e, quando não há vento, a melhor).
[...]
Como aluno da Universidade, tudo mudou: as férias do verão eram passadas (à parte o banho rápido no Guincho) a estudar para os exames de Outubro.»

«Descansar, estudar e preparar», JL # 1091, Lisboa, 25 de Julho de 2012.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

CASCAIS NO CAMPO DA «SEARA»: PROENÇA, CORTESÃO E REYS (3)

Jaime Cortesão assumira em 1919 a direcção da Biblioteca Nacional, substituindo Fidelino de Figueiredo (1889-1967), comprometido com o sidonismo, e que regressaria ao posto, por breve período embora,com o 28 de Maio, e em ruptura com os mais proeminentes elementos daquela instituição: Raul Proença, chefe da Divisão dos Serviços Técnicos, Aquilino Ribeiro (1885-1963), segundo-bibliotecário, e ainda Alexandre Vieira (1884-1973), chefe dos Serviços Gráficos, vindo a desempenhar as funções de secretário-geral da CGT e director de A Batalha.

Sol XXI # 29/30/31, Carcavelos, 1999. 

o «Grupo da Biblioteca»: Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão (sentados);
Faria de Vasconcelos, Raul Proença e Câmara Reys

terça-feira, 19 de junho de 2012

JOSÉ DA CUNHA BROCHADO NA CORTE DE LUÍS XIV (3)

Formado em Leis pela Universidade de Coimbra, juiz do Cível e do Desembargo do Paço, fundador e presidente da Academia Real da História Portuguesa, criada por D. João V, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, chanceler das ordens militares, membro do Conselho do «Magnânimo», do Conselho da Rainha D. Maria Ana de  Áustria (pertencera já ao Conselho da Fazenda no reinado de D. Pedro II), enviado extraordinário da Coroa portuguesa às cortes de Paris, Londres e Madrid, Brochado pertence à estirpe notável de um Duarte Ribeiro de Macedo (1618-1680), um Diogo de Mendonça Corte-Real (1662-1749), um Alexandre de Gusmão (1695-1753), homens simultaneamente de pensamento e acção política em que o período foi fértil, e que na esteira de António Sérgio e Jaime Cortesão costumamos designar por estrangeirados.

José da Cunha Brochado na Corte de Luís XIV, Cascais, edição minha, 1999.

(imagem

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um escândalo póstumo -- A candidatura de Fernando Pessoa ao lugar de conservador do Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães (4)

Em 1927 dera-se algo de novo no panorama literário português, que João Gaspar Simões reputou -- e com justeza, embora ele estivesse sendo juiz em causa própria (4) -- de essencial para que Pessoa encarasse de uma forma nova o seu destino literário e -- por consequência -- pessoal. Em 10 de Março desse ano surgia a presença -- folha de arte e crítica, dirigida por José Régio (1901-1969), Branquinho da Fonseca (1905-1974) e Gaspar Simões (1903-1987). E no manifesto de abertura, para uma «literatura viva», assinado pelo autor dos Poemas de Deus e do Diabo, já estava presente o lugar do futuro autor da Mensagem no seio da segunda geração modernista. Proclamava-se:


«Literatura viva é aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e que por isso                 mesmo passa a viver de vida própria. Sendo esse artista um homem superior pela sensibilidade, pela inteligência e pela imaginação, a literatura viva que ele produza será superior; inacessível, portanto, às condições do tempo e do espaço. E é apenas por isto que os autos de Gil Vicente são espantosamente vivos, e as comédias de Sá de Miranda irremediavelmente mortas; que todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Botto; que os sonetos de Camões são maravilhosos, e os de António Ferreira maçadores; que um pequeno prefácio de Fernando Pessoa diz mais que um grande artigo de Fidelino de Figueiredo; que há mais força íntima em catorze versos de Antero que num poemeto de Junqueiro; e que é mais belo um adágio popular do que uma frase de literato.» (5)

(4) Ibidem, pp. 98-99.
(5) José Régio, «Literatura viva», presença #1, Coimbra, 10 de Março de 1927, ed. facsimilada, vol. I, Lisboa, Contexto, 1993.


Sol XXI #24, Carcavelos, Março de 1998, p. 9.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Três escritores em tempo de catástrofe: Castro, Zweig e Eliade (4)

Escritor que se fez a si próprio, foi no Brasil que Ferreira de Castro se auto-revelou, no meio adverso de um seringal da Amazónia, entre 1911 e 1914. Será, contudo, em Belém, capital do estado paraense, que vivia ainda sob os efeitos da ressaca de uma rubber-rush -- onde permaneceu até 1919, ano do regresso a Portugal --, que o jovem literato, entretanto trabalhando na imprensa local, editará os seus dois livros iniciais (Criminoso por Ambição e Alma Lusitana, ambos de 1916). Na Biblioteca Pública da cidade, bem fornecida de literatura portuguesa e francesa, Castro tomará contacto, pela primeira vez, na maioria dos casos, com os grandes escritores das duas línguas (2), muitos dos quais permanecerão como referências sua. Falamos, naturalmente, de Zola (1840-1902), mas também de Balzac (1799-1854) e Victor Hugo (1802-1885) ou Camilo (1825-1890) e Eça (1845-1900).



(2) Ver Bernard Emery, L'Humanisme Luso-Tropical selon José Maria Ferreira de Castro, Grenoble, Ellug, 1992, pp. 120-121; id., «Ferreira de Castro et la culture française», Miscelânea sobre José Maria Ferreira de Castro, Grenoble, Centre de Recherche et d'Études Lusophones et Intertropicales, 1994, pp. 53-65.


Boca do Inferno #3, Cascais, Câmara Municipal, 1998, pp. 92-93.

(também aqui)

quinta-feira, 29 de março de 2012

Linhas de Cascais - Ferreira de Castro

Ao passar a linha, para o Monte Estoril, ele voltou-se : -- e os seus olhos contemplaram as «silhouettes» negras dos palácios que se debruçavam para o oceano : -- como uma interrogativa saída duma grande meditação.
Depois volveu a andar : -- a subir a encosta suave -- donde ele via e ouvia o mar : -- e via aqueles faróis vermelhos dum vapor que atravessava as ondas, silencioso como um gatuno que se servisse nas trevas duma lanterna eléctrica.

Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge, Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1924.

Regatas em Cascais, com Monte Estoril ao fundo



segunda-feira, 26 de março de 2012

linhas de Cascais - Ferreira de Castro

E alheado de si mesmo : -- entregue a uma indolência negra : -- que não lhe deixava debruçar-se sobre a própria alma, ele chegou a Cascais.
Contrariou-o o facto, pois quisera jantar em qualquer lugar menos plebeu : -- em qualquer Casino ainda sem frequentadores ou qualquer hotel que já não tivesse hóspedes no salão.
Ante o inevitável, entrou no Riviera, àquela hora tardia já despovoado de comensais : -- e jantou rapidamente, enervado, mal disposto.
E saiu depois : -- e atravessou a vila vagarosamente : -- sob o fluxo das recordações, que vinha do mais longínquo do seu passado esbater-se na sua alma : -- como aquelas ondas cujo rugido perturbava o silêncio quente da noite : -- e que vinham também do remoto dos mares.

Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge, Lisboa, Livrarias Aillaud & Bertrand, 1924.

sábado, 17 de março de 2012

Eça e os Vencidos da Vida em Cascais (1)

Vencidos em Cascais
[epígrafe:] Clamamos por aí, em botequins e livros, "que o país é uma choldra". Mas que diabo! Porque é que não trabalhamos para o refundir ao nosso gosto e pelo molde perfeito das nossas ideias?... Vossa Excelência não conhece este país, minha senhora. É admirável! É uma pouca de cera inerte de primeira qualidade. A questão toda está em quem a trabalha. Até aqui, a cera tem estado em mãos brutas, banais, toscas, reles, rotineiras... É necessário pô-la em mãos de artistas, nas nossas. Vamos fazer disto um bijou!...
                                                Eça de Queirós, Os Maias (1888)

Paço de Cascais, 19 de Outubro de 1889. D. Luís I morre na Cidadela. O príncipe D. Carlos sobe ao trono, e com ele a esperança de um grupo que não se revê num sistema político hegemonizado por dois partidos que alternam no Governo e detêm em simultâneo o controlo do estado.

Eça e os Vencidos da Vida em Cascais, Cascais, Câmara Municipal, 1998.



sábado, 3 de março de 2012

Uma tela e uma sinfonia para o «Cascais» de Garrett (4)

O visconde da Luz gostava da vila, e por cá se demorava. À sua acção, enquanto director das obras Públicas, ficou a dever-se a abertura da velha estrada para Oeiras, via que, mais tarde, Pedro Borges Barruncho, nos Apontamentos para a Historia da Villa e Concelho de Cascaes (Lisboa, 1873), considerou ter tido como consequência a «regeneração de Cascais». Em 1863, ainda se não instituíra o hábito da vinda da corte a banhos, Barreiros edificou a sua casa no Alto da Bela Vista, cuja fotografia foi publicada por Guilherme Cardoso no Cascais Passado a Preto e Branco (Cascais, Associação Cultural de Cascais, s.d.).

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A. Fontoura da Costa: Um capitão de longo curso na História dos Descobrimentos (3)

O capitão-de-mar-e-guerra Abel Fontoura da Costa (Alpiarça, 1869 -- São Pedro do Estoril, 1940) pertenceu à plêiade de oficiais de marinha que legou à historiografia dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa obras de inestimável valor e, décadas passadas sobre a sua concepção, ainda hoje de grande utilidade. lembremos Brás de Oliveira (1851-1917), Baldaque da Silva (1852-1915), Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), Quirino da Fonseca (1868-1939), Gago Coutinho (1869-1959) e, mais recentemente, A. Teixeira da Mota (1920-1982). (2)

(2) Ver súmula in Alfredo Pinheiro Marques, A Historiografia dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, Coimbra, Livraria Minerva, 1991.

Roteiro da exposição, «A. Fontoura da Costa e a Marinharia dos Descobrimentos», Museu do Mar, Cascais, Câmara Municipal, 1997 (policopiado).

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A memória em papel selado (1)

Costumamos ser assim: lamentamos o que não foi feito e o que se fez; esconjuramos os erros de que outros foram fautores no passado, mas repetimo-los, de certeza, no futuro. E nesta vocação carpideira persistimos alegremente.

Nota sobre Fernando Pessoa -- A Biblioteca Impossível (Cascais, 1995), Arquivo de Cascais -- Boletim Cultural do Município, Cascais, Câmara Municipal, 1996.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sete Cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (4)

Ao contrário daquele que foi o mais celebrado crítico de cinema do seu tempo, a posição de Cardim é mais prudente. Decerto, não deixa de tecer elogios ao filme, à probidade do realizador, notando «o estudioso cuidado com que ele se preparou -- como aliás lhe cumpria -- para o alto cometimento, lendo, evidentemente, o que de melhor se tem escrito sobre o assunto [...]» (2)

Luís Cardim, Os Problemas do «Hamlet», p. 85.

(postado também aqui)
 
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