terça-feira, 23 de setembro de 2008

poesia de cascais #6 - Dick Hard



CONTO DE FADAS

A princesa estava fechada na torre
como é lógico
Lancelot foi salvar a princesa
como também é lógico

Como era de prever
Lancelot teve de matar um dragão mau
para poder salvar a linda princesa

Por coincidência
a princesa era loura de olhos azuis
Lancelot era valente e dedicado

Contudo, não viveram felizes para sempre
nem tiveram muitos meninos
Lancelot decidiu sair dos contos de fadas

Tomaram um atalho
foram para um quarto do Intendente
Lancelot sodomizou a princesa

Cá fora, miúdos jogavam ao berlinde
um homem vendia jornais na esquina
e Lancelot sodomizava a princesa

A princesa gemia e suava
os miúdos jogavam ao berlinde
um homem vendia jornais

Saíram do quarto e foram jogar bilhar
fumaram uma ganza
e viram o pôr-do-sol no Castelo

A princesa já não tinha véu
vestia jeans
Lancelot usava um blusão de cabedal

Meteram-se num buggy
bazaram para o Guincho
beberam bagaços numa tasca

Caiu a noite
a madrugada não tinha um lindo luar
nem o Jack, o Estripador tinha encomendado nevoeiro

Era apenas
uma madrugada normal
azar...

domingo, 14 de setembro de 2008

poesia de cascais #5 - Branquinho da Fonseca


POEMA DO MAR E DA SERRA

Ó mar de que não sei nada
Nem vejo que desvendar,
És só a mais larga estrada
Para ir e voltar!

Eu sou lá dos montes
Que medem o céu,
Sou das frias serra onde primeiro o sol nasceu
E onde os rios ainda são apenas fontes.

Sou de onde as árvores falam
A língua que eu conheço,
Onde de mim sei tudo
E do resto me esqueço.

Lá, tenho olhar de estrelas a luzir
E tenho voz de guardador de rebanhos,
Passos de quem só desce p'ra subir,
Mãos sem perdas nem ganhos.

Contigo falo, ó mar,
se a lua vem do céu passear o mundo,
Tornando-te a planície do luar
Sem ecos nem mistérios de profundo.

Mas só lá sou eu da terra e a terra é minha,
Só lá eu sou do céu e o céu é para mim,
Ó serra aonde há tal serenidade
Que nada tem começo
Nem fim.

sábado, 6 de setembro de 2008

poesia de cascais #4 - José Gomes Ferreira


(Nesse verão estivemos todos juntos na praia:
o Manuel Mendes e a Bá, o Chico e a Maria Keil,
o José Bacelar e a Maria Luísa, o José Rocha e a
Selma. E eu mergulhava no mar aos Vivas à República!)

Carcavelos.

«Aqui nesta praia amarela...»
tanto esperei em vão pelo princípio do mundo
com os pés a doerem-me
nas conchas de sangue nu dos tapetes...

Depois despia-me
e desafiava o mar
para sentir na pele
aquele frio antigo tão doce de alfinetes...
 
Golf
Golf