terça-feira, 7 de setembro de 2010

poesia de cascais #21 - Guerra Junqueiro



O CAÇADOR SIMÃO

A FIALHO D'ALMEIDA

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente...
Corta a mudez sinistra o mar profundo...
Chora a rainha desgrenhadamente...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É o príncipe Simão que vai à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado...
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d'amargura e dor...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da Pátria a agonizar...
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

A Pátria é morta! a Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta.
Guarda a Infâmia o sepulcro dos heróis.

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão...
Tocam clarins de guerra a Marselhesa...
Desaba um trono em súbita explosão!...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...

Viana do Castelo, 8 de Abril de 1890.

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