quinta-feira, 29 de março de 2012

Linhas de Cascais - Ferreira de Castro

Ao passar a linha, para o Monte Estoril, ele voltou-se : -- e os seus olhos contemplaram as «silhouettes» negras dos palácios que se debruçavam para o oceano : -- como uma interrogativa saída duma grande meditação.
Depois volveu a andar : -- a subir a encosta suave -- donde ele via e ouvia o mar : -- e via aqueles faróis vermelhos dum vapor que atravessava as ondas, silencioso como um gatuno que se servisse nas trevas duma lanterna eléctrica.

Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge, Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1924.

Regatas em Cascais, com Monte Estoril ao fundo



segunda-feira, 26 de março de 2012

linhas de Cascais - Ferreira de Castro

E alheado de si mesmo : -- entregue a uma indolência negra : -- que não lhe deixava debruçar-se sobre a própria alma, ele chegou a Cascais.
Contrariou-o o facto, pois quisera jantar em qualquer lugar menos plebeu : -- em qualquer Casino ainda sem frequentadores ou qualquer hotel que já não tivesse hóspedes no salão.
Ante o inevitável, entrou no Riviera, àquela hora tardia já despovoado de comensais : -- e jantou rapidamente, enervado, mal disposto.
E saiu depois : -- e atravessou a vila vagarosamente : -- sob o fluxo das recordações, que vinha do mais longínquo do seu passado esbater-se na sua alma : -- como aquelas ondas cujo rugido perturbava o silêncio quente da noite : -- e que vinham também do remoto dos mares.

Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge, Lisboa, Livrarias Aillaud & Bertrand, 1924.

sábado, 17 de março de 2012

Eça e os Vencidos da Vida em Cascais (1)

Vencidos em Cascais
[epígrafe:] Clamamos por aí, em botequins e livros, "que o país é uma choldra". Mas que diabo! Porque é que não trabalhamos para o refundir ao nosso gosto e pelo molde perfeito das nossas ideias?... Vossa Excelência não conhece este país, minha senhora. É admirável! É uma pouca de cera inerte de primeira qualidade. A questão toda está em quem a trabalha. Até aqui, a cera tem estado em mãos brutas, banais, toscas, reles, rotineiras... É necessário pô-la em mãos de artistas, nas nossas. Vamos fazer disto um bijou!...
                                                Eça de Queirós, Os Maias (1888)

Paço de Cascais, 19 de Outubro de 1889. D. Luís I morre na Cidadela. O príncipe D. Carlos sobe ao trono, e com ele a esperança de um grupo que não se revê num sistema político hegemonizado por dois partidos que alternam no Governo e detêm em simultâneo o controlo do estado.

Eça e os Vencidos da Vida em Cascais, Cascais, Câmara Municipal, 1998.



sábado, 3 de março de 2012

Uma tela e uma sinfonia para o «Cascais» de Garrett (4)

O visconde da Luz gostava da vila, e por cá se demorava. À sua acção, enquanto director das obras Públicas, ficou a dever-se a abertura da velha estrada para Oeiras, via que, mais tarde, Pedro Borges Barruncho, nos Apontamentos para a Historia da Villa e Concelho de Cascaes (Lisboa, 1873), considerou ter tido como consequência a «regeneração de Cascais». Em 1863, ainda se não instituíra o hábito da vinda da corte a banhos, Barreiros edificou a sua casa no Alto da Bela Vista, cuja fotografia foi publicada por Guilherme Cardoso no Cascais Passado a Preto e Branco (Cascais, Associação Cultural de Cascais, s.d.).

 
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