terça-feira, 26 de agosto de 2008

poesia de cascais #3 - Lourdes Borges de Castro

RECORDAÇÃO

Quando eu era pequena
-- Nem mulher, nem criança: adolescente --
Sentia uma aversão forte e pungente
Por tudo o que era triste ou desse pena.
Não gostava de ouvir falar na morte
Nem de passar ao pé do cemitério:
A morte era pra mim grande mistério
E imaginava-a muito alta e forte...
Eu morava em Lisboa nessa altura
Mas tinha casa ao ano no Estoril,
E assim que começava o mês de Abril
Partíamos em busca de frescura.
Todo o fim de semana, sem excepção,
Ia toda a família descansar
Na pequenina casa à beira-mar:
Eu, meu Pai, minha mãe e o nosso cão.
O caminho mais rápido passava
Ao cemitério dos Prazeres; e eu
Para o não ver olhava para o céu
E para disfarçar ria e cantava...
Não era medo, não, o que eu sentia:
Eu era uma menina corajosa.
Mas nessa terra, triste e silenciosa,
Havia algo que eu não percebia.
Só hoje sei que essa aversão que eu tinha
Resultava da minha pouca idade:
Estuante de vida e mocidade
Achava a morte vil, feia e mesquinha...
Mas os anos correram e mudaram
Essa estranha maneira de sentir.
Hoje a recordação faz-me sorrir:
Foram já muito anos que passaram...

E quantas vezes eu fico a sonhar,
Num sonho sem calor, pungente e sério,
Que estou sozinha nesse cemitério
E que pra sempre lá quero ficar...

4 comentários:

nas asas de um anjo disse...

é bom ver que a divulgação poética continua!

Ricardo António Alves disse...

E continuará! Volte sempre.

nas asas de um anjo disse...

agradecida pelas minhas asas repousarem aqui na sua link list de blogs(",)

Ricardo António Alves disse...

Ora essa, é um prazer!

 
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