A voz vinha de longe. E eu continuava a caminhar por entre as ervas do pântano, ouvindo-a numa meia inconsciência. O cansaço e o calor davam-me aquela lassidão de músculos agradável pelo desprendimento da realidade e pela volúpia de deixar a atenção dormente e pegada a pequenas coisas em que noutras ocasiões não se repara. Ia caminhando devagar, com um instintivo cuidado, através do areal pantanoso, por entre as ervas altas e os caniços em sebes densas que me obrigavam a dar grandes voltas para seguir na direcção que pretendia.Branquinho da Fonseca, «Rio turvo», Rio Turvo, 3.ª edição, Lisboa, Portugália Editora, 1969, p. 9.
2 comentários:
Adorei!
Conheço alguma coisa do trabalho de Branquinho, ele é fantástico!
Um abraço,
Cácian Castro
Outro para si, Cácian :|
Enviar um comentário